30 de dezembro de 2010

A propósito do Novo Ano



Os anos passam, sucedem-se... uns tão apaticamente iguais, outros tão dramaticamente diferentes.
Mas existem anos felizes. Ou anos com dias felizes. Ou dias com momentos de felicidade.
O que importa é que existam, que se sintam e façam sentir e não passem por nós vazios ou nós, por eles, sem sentido.
Todos os anos se festeja, de uma forma ou de outra, o segundo de transição da soma de todos os dias que se gastaram nas nossas vidas e a vinda de outros tantos.
Que se festeje pois, mas mais do que isso...
Que se festeje a chegada de mais trezentas e sessenta e cinco oportunidades de fazermos um pouco mais e melhor...
Por nós, para que brilhe mais a nossa lua, vivendo alto;
Pelos outros, para que sintam que os gestos que parecem banais, são afinal fundamentais;
Pela protecção e preservação do mundo, para que não deixe de ser o melhor lugar para viver.
Que se festeje a alegria de não ver perdida a esperança de mudar o que está ao alcance das nossas mãos, quando sabemos que não podemos mudar o mundo.
Que se brinde com lágrimas ou risos o maravilhoso privilégio que é viver. Viver a sonhar e a partilhar. Viver perdendo e ganhando. Viver a crescer e a dar. Viver a amar.
Que cada um de nós, seja a gota de água, o raio de sol, a luz maior que faz a diferença. Que ame cada dia do novo ano, espelhando um sorriso, e que nenhum segundo se desperdice.

Escrevi este texto há um ano atrás e hoje, porque não encontraria outras palavras que dissessem mais ou melhor, o que vos desejo para o novo ano, reedito-o.
Sei que se anunciam dias difíceis, dias que vão apelar mais à nossa resiliência e ao nosso sentido solidário. Estejamos atentos e aproveitemos isso para crescer em humanidade.
Talvez não possamos em 2011, vir a ter tudo o que desejamos, mas que dia a dia, o próximo ano nos permita ter, exactamente, o que precisamos. Isto, parecendo ser pouco, será sem dúvida, o bastante para sermos felizes.


Com a amizade, o carinho e a gratidão de sempre, para todos...

BOM ANO !


27 de dezembro de 2010

Fazes-me falta




À beira de mim,
reduto do que sou
anelo de existência,
ajoelho-me no mar
e nele entrego o meu pretérito,
dor assilábica
de todas as rezas de invernia.

Espero-te,
como quem espera o regresso dos deuses
no resgate das conchas

E sei,
porque simplesmente sei,
que é cíclica a melodia
das ondas,
enquanto aguardo no cais
o silêncio manso
da tua chegada.

Mesmo que errante no ocaso
será a surpresa da tua voz
que dançará na minha pele,
como um hino perfumado
tremulando na alma
até à colheita,
do doce manto de tulipas brancas
que há muito crescem
serenas
à tona d' água,
crendo no beijo colorido
dos teus olhos.

Só elas sabem
o quanto me fazes falta.


19 de dezembro de 2010

Basta acreditar




Basta acreditar,
e prolongaremos o espírito do Natal
a todos os dias do ano...



Que esta seja, mais uma oportunidade de nos prepararmos para isso!

Para todos....
Com a amizade e o carinho de sempre...



14 de dezembro de 2010

Simples poça de água



Trago ao peito,
a linha descontínua
do traçado de um mapa
e todos os dias cegos,
talhados à força do impulso.
Trago nas mãos
a rocha, lava liquefeita,
travo amargo de todos os medos
que gotejam no tempo,
o fermento dos nós
no laço dedos.
No regaço,
trago um espaço
onde dançam as estrelas,
prenhes de todo o brilho do mundo,
no prolongamento do céu.
O mesmo céu, plúmbeo
que tantas vezes
me inunda a mágoa, de mar
e a vida, de néctar da uva,
sabendo-me...
simples poça de água
berço das gotas da chuva.


8 de dezembro de 2010

Onde vive o Menino Jesus



Sempre soube que o Menino Jesus vivia dentro de cada um de nós.

O que só descobri depois, é que nem todos acreditamos verdadeiramente nisso em todos os dias do ano...


" (...)
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos os dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda. (...)"

Alberto Caeiro
( Poema do Menino Jesus )

4 de dezembro de 2010

Musgo norte














Cresce a norte
o musgo verde dos presépios
e procuro nas mãos pequenas,
a magia dos sonhos de infância.
Fala-me a terra
da fome das crianças,
presa ao massacre dos pinheiros
e das figuras de gelo
agonizando, tão frias.
No céu, sem brilho
chora uma estrela perdida
e chove noite
sem vontade de ser dia.
Em mim,
caem-me lágrimas nos dedos
e seca o musgo, no sal
sem vontade de Natal.



1 de dezembro de 2010





O que te torna desumano não é o teu medo
mas a tua ignorância!

Só por isso me discriminas, 

e nem reparas
como é igual a linha redonda dos nossos olhos.



28 de novembro de 2010

Isto dá que pensar (8)


Há gestos que parecem difíceis,

simplesmente porque nos esquecemos

de os incluir nos nossos dias...



... e eles são, em simplicidade,

aqueles que devolvem à nossa vida

a humanidade que tantas vezes nos falta.


24 de novembro de 2010

Mulher imensa



Que fazes tu, mulher
Ao brilho dos teus olhos
Quando empardecidos
Se rendem à salga da vida
Na espera do amparo de um anjo?

Que fazes tu, mulher
Ao que te lateja no peito
Silenciado e dormente,
Incandescente
Quando o tempo te consome?

Diz-me, que cor têm as cinzas
Do leito onde adormeces
E desfaleces cansada
Quando o corpo se esvazia de nada!

Diz-me a que te sabem os lábios
Quando tens de morder as palavras
Vazias, geladas de solidão
Devolvidas e retalhadas
Do tanto que nelas plantaste
Em forma de coração!

O que fazes tu, mulher imensa
Do que guardas na lembrança
E não dizes, apenas

Para que a tristeza,
Não te faça perder a esperança?



18 de novembro de 2010

Para te dizer o quanto te quero




Para te dizer o quanto te quero
Invento o etéreo verbo

A palavra perfeita
Na sintaxe de um poema,
Farpado da alma a doer

Como uma laçada feita ao peito
Cordão de uma ponte só nossa,
Suspensa
Sobre um rio alucinado
Que invadindo louco todas as margens
Nos afoga a alma e nos afasta

Contendo -te...
De mergulhar na doçura dos meus olhos

Impedindo-me...
De te dizer o quanto te quero



( Foto pessoal )

14 de novembro de 2010

Na dobra da noite



Na dobra da noite, é o silêncio que me toca a ponta dos dedos e me leva até à janela. Eu fico ali, de vida debruçada, madrugada fora à espera de mim.

Sei-me pé-ante-pé, com o vértice de uma estrela preso ao peito, seguindo o rasto redondo do mundo.

Quando por fim me abraço, no afago quente de um reencontro, já o sol me espera para se entrançar no meu cabelo, enquanto a lua se despede do meu olhar levando com ela tudo o que me ensinou sobre solidão.


10 de novembro de 2010

Estaremos nós preparados?



Por estes dias, em que a chuva e o vento me levaram a pensar profundamente no sentido das minhas inquietações e, perante a degradação da condição económica do país, dei comigo a interrogar-me se, na verdade, estaríamos nós preparados para viver com muito menos e se, apesar disso, conseguiríamos encontrar o equilíbrio necessário para sermos felizes.
Não podendo negar esta possibilidade, tendo em conta que ela se torna cada vez mais evidente, importa reflectir urgentemente, nas nossas rotinas e estilos de vida e questionarmo-nos de uma forma sensata e consciente sobre a nossa individual realidade.
Estaremos preparados, para deixar de viver com muitas coisas, cuja necessidade foi criada por nós, rendidos à força do marketing ou de uma sociedade demasiado competitiva e consumista?
Seremos capazes de deixar de comprar por impulso o que simplesmente não é essencial, mas consola o prazer imediato ou o direito que achamos ter, igual aos demais?
Saberemos distinguir o que é uma necessidade e o que é um mero capricho?
E o que achamos ser essencial para nós, será isso uma completa evidência?
Acredito que as gerações mais antigas, estejam preparadas para esta provação, por força do tempo e da realidade que já viveram. E as mais recentes, que cresceram na explosão da modernidade e do facilitismo e que vêm agora desmoronar, o castelo que lhes permitiram construir em tão frágeis alicerces, estarão?
Cada um fará a sua própria reflexão, na consciência de que em cada um de nós e em cada economia familiar, têm de ser encontradas soluções mais simples e menos dispendiosas, para continuar a usufruir da vida no que ela tem, em essência, de melhor para nos dar.

Porque há ecos que sendo reflexos, são versos poéticos, maravilhosas aguarelas ....
Este, ofereceu-me a Manuela Baptista. Guardo-o ao peito e partilho-o convosco, por ser em permanência, eterna essência.

"
era bom
o cantar da água no ribeiro e o cheiro a sabão azul e branco
descascar quilos de marmelos, pesar açucar e canela, mexer um enorme tacho com uma colher de pau
ir a pé para a escola
jogar à bola no meio da estrada
acender a lareira e não ver televisão
conversar à noite até o sol romper
ter um forno de lenha para cozer o pão
e entender o tempo de cada estação!
restituam-me o silêncio e o direito de cantar, que eu
devolvo a pressa e a máquina de lavar "


6 de novembro de 2010

Voltará a ser primavera


Adensa-se o céu
na contemplação dourada dos plátanos
que vencidos pelo cansaço e no desejo de noite,
se vergam ao pasmo das nuvens desfeitas.

É nesse infinito de sombras
que se inebriam as folhas,
regressando ao pó, em círculos e voltas
e a ele se rendem em dádiva
num sopro asfixiado de vida,
alento e alimento,
no esperado rigor da geada.

Por isso, e no adil do inverno,
sorri de esperança, a raiz cravada na terra
porque quente é a seiva dormente
e isso, sendo um pouco de nada
é tudo o que tem o tronco despido,
para se manter erguido,
acreditando
que voltará a ser primavera.


2 de novembro de 2010

Fala-me de amor



N
o tempo findo das borboletas,
fala-me de amor...

Dos teus dedos soletrados no meu rosto
enquanto durmo
e das acácias que me deixas sonhar
presa a ti .

Fala-me do laço das asas
no delírio das aves
e da mansidão dos teus olhos
quando me beijas.

Fala-me de amor
e deixa-me morrer
enquanto te oiço.


28 de outubro de 2010

Cumplicidade


É ser do ventre,
a polpa de fruto diferente
e ser no gesto cruzado,
o reflexo nascente,
verso de um mesmo lado.

É ser presente, no olhar de frente
e ser fio de luz que brilha
num sol já iluminado.
É ser beijo e aguarela
tela de mundo inteiro,
é ter nas mãos um canteiro,
onde cresce trigo doce
e seara de centeio.

É partilhar ternura
num jardim, a duas mãos semeado,
é sentir perfumado o futuro
num coração que pula,
com outro a ele agarrado.



À Teresa e à Inês....
simplesmente porque festejam seis anos de cumplicidade!!
(As fotos pretencem-lhes e a sua publicação, teve autorização prévia)

26 de outubro de 2010

Tango triste


René Magritte - The Lovers (1928)


Há corpos que dançam sem a rítmica alquimia da pele, no desacerto da vida.
E sem saberem dos compassos, deixam cair nos ombros as franjas de uma alma exposta às gotas da chuva, e nela se alagam até a inevitável insensibilidade da medula.
Ignoram o tom e o dom de se enlaçarem numa mesma melodia e rodopiam em voltas inversas, onde os rostos se transfiguram em claves sem sol, numa longínqua, fria e solitária partitura.
Arrastam-se a tropeçarem no tempo, movidos numa dança sem sincronia, com as notas de um tango a contraírem-lhes os lábios que sangram de sede, silêncio e melancolia.

Há corpos cansados
moribundos de si,
que não dançam,
apenas balançam
agarrados.


21 de outubro de 2010

Pétalas em laço


Colho do sol
A cálida fonte que me entregas
De seiva a despoletar-me na pele
O pulsar rosáceo de vida
Ao longe
O cantar das águas em viagem
Semeando em mim
A sílaba que é voz e gesto
De uma força adormecida
Ergo-me do chão
Presa ao coração de um pássaro
E das pedras que me feriram as mãos
Soltam-se os detalhes
Pétalas em laço
Onde se aninha a alma que sou
E com ela te abraço


18 de outubro de 2010

Isto dá que pensar (7)


Para que não se viva
nem mais um segundo
sem sentido...


Mas que o sentido da vida
seja encontrado
em cada segundo!


13 de outubro de 2010

Dias sem norte


Hoje
Sou estátua de sal
Perdida de oceanos
Aos meus olhos
Apenas o lodo das marés
Repousa no sargaço
Que envelhece ao sol
E em terra minha
A alma é a quilha de uma caravela
Sem vento e sem vela
Dobrada sobre si
Em agonia

Hoje
Na ausência de um leme
Sou âncora embotada
Que rasga o tempo
A sangrar por dentro
E no meu sentir salino
Procuro um horizonte
Uma fonte ou gota de água
Que me refaça
Garça doce
Esvoaçante
Abraçando a dor
Mumificada


8 de outubro de 2010

A caminho do céu



Quando eu morrer

Planta o que eu fui

Na escarpa onde me vires caída

E em reminiscência

Eu irei viver em ti

Como uma árvore

A caminho do céu



5 de outubro de 2010

Quando a lua se parte




Aos olhos do Luís, ela era a miúda mais gira da sala de aula.
Achava-a parecida com a Anita dos livros da irmã e por isso, imaginava-a dentro das histórias que já ia lendo, vivendo com ela no íntimo do seu segredo, todas aquelas aventuras.
Nunca foram companheiros de carteira, embora ele o tivesse tentado várias vezes, mas Maria tinha uma amiga especial, a Zé, com quem ia e regressava da escola, lado a lado e era também lado a lado, que ambas partilhavam os primeiros passos nas aprendizagens das letras e dos números.
Estavam na terceira classe e nesse ano, ele tinha conseguido ficar sentado logo atrás dela. Passara assim a ser mais fácil chamar-lhe a atenção por qualquer pretexto. Não importava o motivo, desde que ela se virasse para trás e o olhasse e lhe falasse e… sim, era isso o que mais ansiava, lhe sorrisse.
Maria achava-lhe graça e sentia desde há muito, aquela preferência do amigo por ela. Sabia, embora não conseguisse explicar, que não era por acaso que ele lhe oferecia quase sempre, metade do seu pão com marmelada, à hora do recreio ou, na falta deste, apenas a sua presença para brincar.
Naquele ano, e devido às constantes solicitações dele, Maria tornara-se um pouco irrequieta e com frequência, lá estava ela virada para trás a conversar.
Dona Ema, a professora por quem todos tinham uma admiração particular, já tinha dado conta daquela distracção sistemática e de quando em vez, advertia, ora um ora outro, procurando recuperar a atenção dos seus alunos e corrigir-lhes o comportamento menos adequado.
A obediência era imediata e reconhecendo sem qualquer contestação, a falta cometida, balbuciavam um envergonhado; “ Desculpe, Senhora professora”, e os olhos pousavam timidamente no caderno, ao mesmo tempo que alinhavam a postura e a compostura.
Mas houve um dia, daqueles raros dias em que parecia que a tempestade entrava dentro da sala e tudo ficava cinzento e triste. Luís tinha acabado de a chamar, ela rodou o rosto para ele e com o seu maior sorriso, perguntou baixinho - Que queres? – Sem qualquer aviso, Maria ouviu o que parecia um trovão com o seu nome. Voltou-se imediatamente para a frente e, assustada, ousando olhar para a sua querida professora, quase gelou quando não lhe encontrou no rosto o olhar maternal de que ela tanto gostava. Nenhum traço de doçura, nenhum sinal de tolerância. Em vez disso, ouviu-a gritar outra vez – Já aqui ao pé de mim, Maria!-
Levantou-se. A tremelicar, cumpriu a ordem e, pela primeira vez, sentiu um frio estranho nas mãos e uma vontade quase irresistível de fugir.
Na secretária da Dona Ema, aparecera como que por vontade maléfica de uma qualquer fada má, uma régua de pinho, novinha e a estrear. Maria percebeu os movimentos da professora e, quando esta lhe pediu a mão, ofereceu-a sem contestar, com a palma virada para o tecto. Nela caíram impiedosas e sonantes três reguadas e quando pensava que se iria embora, a outra mão lhe foi pedida e também essa deu, para receber igual tratamento.
- Agora senta-te e livra-te de eu te ver voltada para trás, outra vez! – Maria foi, com as mãos fechadas de dor e injustiça. Antes de se sentar, olhou para o Luís e achou que ele tinha encolhido com o medo. Sentou-se por fim e agarrou os ferros frios das costas da cadeira, para lhe aliviar o doloroso formigueiro nas mãos. Nos olhos, dançavam-lhe traiçoeiras as lágrimas e por isso, pediu com toda a força ao Menino Jesus que não as deixasse cair, em troca, ela nunca mais se viraria para trás. Mas o Menino, mesmo sendo seu amigo, sabia que isso era algo que ela não podia prometer e sendo assim, deixou que ela chorasse em silêncio e a bata branca se molhasse de tristeza, vergonha e humilhação.
Nas horas seguintes, o silêncio permaneceu sentado entre todas as crianças que faziam cópias e contas, conforme pedira a professora.
Luís só conseguia ouvir o som da régua a cair nas mãos da Maria.
Maria não tirou os olhos dos livros e cadernos e o seu coração era uma lua partida em pedacinhos, e até a Dona Ema ficara em silêncio na sua secretária.
Quando todos se preparavam para ir embora, a professora aproximou-se dela, colocou-lhe uma mão no ombro e pôs à sua frente aquele pedaço de madeira de pinho, novinho mas já estreado.
Gostava que pintasses a teu gosto Maria, que achas? – Não achava nada, mas abanou a cabeça aceitando a tarefa.
Naquele dia, Maria aprendeu entre muitas outras coisas, que há dores que não se partilham como o pão com marmelada no recreio, que há poucas coisas verdadeiramente incondicionais, que há muitas formas de pedir perdão e que a injustiça jamais se esquece.
Naquele dia, escreveu-se na vida dos protagonistas desta história, uma história que não leriam em livro nenhum, mas que iriam recordar para sempre, como uma das mais importantes das suas vidas.

29 de setembro de 2010

Quando me pergunto quem sou




Quando me pergunto quem sou
Há um riacho límpido
A serenar nos meus olhos
O cansaço do tempo
Nas pupilas

Solto dos dedos
O linho branqueado dos gestos
Que fiado à dor da geada
É bordadura do meu céu
E fino véu que me tem abrigada
Do voo rasante dos milhafres

Quando me pergunto quem sou
Apenas a textura rude da estopa
Envolve a minha circunstância
Com ela teço a pele
Com que me entrego
Cerzindo todas as chagas
E apenas nessa imperfeição
Me reconheço



25 de setembro de 2010

Imagino-te por nascer



Em noites demoradas
Na exaustão aguda dos gritos
Dilacerados e roucos
Imagino-te por nascer
Nas madrugadas infinitas
Escorridas de insónia
Onde a rocha em mim se faz areia
Despedaçada
Eu imagino-te por nascer
E no tacto trémulo
Da minha lua desventrada
Ergo o corpo dorido
Na alma parida
Esvaziada
E choro
Por não te sentir nascido
Por não me sentir nada



21 de setembro de 2010

De ti


Gizaste-me menina
Alva, intacta
Num corpo rendilhado
De sonhos teus de mulher
Desejaste-me o voo
Integro, profícuo
Muito além de todas as rezas
E na arte de ser
Escreveste a última linha
Muito antes de contemplar a obra feita
Eu...
Ainda hoje pouso no teu beiral
À procura dos teus olhos





Esboço de
Thamar de Araújo

15 de setembro de 2010

Magia de Setembro



Desfaço o ângulo morto
Da queda lenta de uma folha
E quando penso que já não sou
Eis que me embalas
No canto manso dos teus beijos
E doce, nasce de nós o vento
Que é aroma de mosto quente
Tronco de um corpo renascente
E esperança de todas as manhãs



9 de setembro de 2010

Para lá do arco-íris






















Há segredos
Que ocultam vícios
Dismorfias
Carícias infames
Pérfidas
Impróprias
Frias
No abuso das horas
Há lamentos vazios
No bafo quente dos lobos
Que dizem ser homens
Há silêncios
Há degredos
Na vergonha dos segredos
Há rios de vida que morrem
Em nascentes abafadas
Há verdades esborratadas
Pelas asas dos morcegos
Há medos
Deixai que a arca se abra
E se solte sem demora
A verdade amordaçada
Aprisionada
Nessa caixa de Pandora
Olhai com mais atenção
O orvalho que cai encoberto
Às vezes mesmo tão perto
Da árvore que é raiz
Um olhar de amor inteiro
Que em dia soalheiro
Vê a criança infeliz
Para lá do arco-íris
Em muitos desenhos de cor
Existe um risco negro traçado
No rosto de quem devia ser flor


7 de setembro de 2010

Sinfonia da ciência (2)


"Qual o nosso lugar na perspectiva cósmica da vida?"

(Robert Jastrow)

"Uma das grandes revelações da exploração espacial,

é a imagem da Terra, finita e solitária,

acomodando toda a espécie humana,

através dos oceanos, do tempo e do espaço."

(Sagan)

The Symphony of Cience

3 de setembro de 2010

O que eu penso sobre.... A Paz




A Paz não é um decreto, um projecto ou um papel assinado.
Não é uma simples solução urgente, para o sossego da ira ou para um sono tranquilo de uma consciência culpada.
A Paz não é propaganda, uma ordem de quem manda ou uma alínea qualquer de um programa mundial.
A Paz é uma construção livre, de amor, justiça e verdade, que começa no nosso umbigo para abarcar a humanidade.
Sendo um bem, é também ela um direito; individual e comum.
É um princípio de vida.
É dignidade colectiva, no humilde respeito de um por todos e de todos por cada um.



29 de agosto de 2010

Mais forte do que um braço



Se pudéssemos rasgar a palavra
E dissecar-lhe o sentido
Na espessa alquimia dos prantos

Se soubéssemos ser éter
A descrever o verbo
Na curva permanente de um beijo

Ah se fossemos apenas
O mais simples simplesmente
Entre a boca que diz
E a mão que não mente

Não haveriam pontos nem vírgulas
No trilho que seguimos
Soltar-se-iam todas as metáforas
Nas línguas mordidas de silêncio
E em cada letra o sol brilharia
Como a rima num verso

Se déssemos a alma à palavra
Nenhum sussurro morreria
Porque sendo mais forte do que um braço
Um laço
Sempre a palavra seria




24 de agosto de 2010

Da simetria dos olhos



Nada se acrescenta
a essa amplitude imensa
quando somos, contorno de sílaba desvairada
livre e solta
a soletrar um poema

Nada se perde ou subtrai
se chorarmos
ao inventar um rio abraçado ao mar
na pálpebra minha que protege a tua
de um sonho ainda por inventar

Tudo é tanto, aqui
na simetria dos olhos
onde esculpimos no pó, o cruzamento da alma
semente deixada ao vento
nosso alento, nossa calma
nossa vida a germinar
porque o amor é colheita
mesmo à mão de semear

Fts pessoais

19 de agosto de 2010

Na intermitência do voo




- Olá – disse ela.
- Olá – disse ele.
- Quem és tu, tão belo e que fazes aí no cimo do teu vértice?
- Ando no vento à minha procura.
- Posso gostar de ti, se me deixares . Porque não te vens mirar aqui, na minha janela?
- Porque a janela é tua e eu não sei ainda quem sou. Dizes que sou belo, mas eu não me reconheço nesse reflexo. Para gostares de mim, é preciso que eu antes me revele e como me posso revelar se ainda não me descobri? Passarias a gostar de mim pelo que julgas que sou, através da luz dos teus olhos, mas o reflexo é apenas a projecção de um desejo, não a minha realidade.
- E como podes tu encontrar-te no vento? Ele passa tão rápido. Às vezes corre veloz e é frio, outras é apenas uma suave brisa que vem do mar. Como buscas a verdade de ti nessa inconstância?
- Espero com paciência que é a maior de todas as sabedorias e grande companheira do tempo.
- Mas a sabedoria nem sempre traz o que se espera e o tempo é efémero.
- Por isso eu não espero nada em concreto. Se soubesse o que ela me traria, que adiantaria esperar? Sabes, não tenho pressa. É tão bom voar.
- Mas posso gostar de ti à mesma , enquanto te descobres?
- Podes sim, mas eu ficarei teu amigo e depois, que faço eu com os teus olhos, se chorares?
- Porque haveria eu de chorar? Gostar de ti vai-me fazer sentir mas bonita.
- Mas eu não sei ainda quem sou, lembras-te? Posso desiludir-te.
- É verdade isso que dizes…. . Mas sabes, quando estou aqui à janela, às vezes aqueço-me com o sol que brilha alto e outras também me abrigo dos pingos da chuva. Sei que é assim e não tenho medo, nem me desiludo. Se te vir chegar, vou abraçar-te com cuidado e ouvir o que tens para me contar. Se te vir partir, ficarei feliz por ti e prepararei os meus olhos para te ver de novo no regresso.
- E se eu não voltar?
- Oh… se não voltares, talvez aí eu me molhe com a chuva mas, abrigar-me-ei na lembrança deste nosso abraço e o seu calor, secará as minhas penas.



Foto pessoal

14 de agosto de 2010

Reconciliação



Sentou-se à beira do mar. Estava exausto, pronto a desfazer-se da pele que trazia e, no entanto, não estava certo de estar pronto para receber a seguinte. Na incógnita, viu-se inseguro.
Tentava lembrar-se dela, do exacto momento em que rasgara a lembrança como uma fotografia e guardara os pequenos pedaços, algures dentro de si.
Tinha sido mais fácil esquecer. Ao longo dos anos tinha aprendido, que há feridas que doem menos se nos esquecermos que existem. Mas, sabia agora também, que essas, as esquecidas, nunca saram.
Não, não se lembrava do rosto dela. Apenas alguns traços numa linha descontínua. Sabia-lhe apenas das mãos, do desenho das veias que as alimentavam, o formato das unhas nos dedos e o carinho que delas nascia; imenso, pleno e generoso, a envolvê-lo em todos os momentos da sua vida. Todos, até ao dia em que o recusou.
Não, também já não se lembrava das palavras. Tantas que ouvira e dissera, doces e agrestes. Nem do olhar que, sem nunca ter percebido bem porquê, evitara.
Mas reconheceria o seu cheiro, num jardim de jasmins e madressilvas, no final do Inverno e saberia seguir a sua voz, como o dedilhar de uma harpa, no meio de uma multidão.
Tudo lhe parecia agora presente, incrustado na alma. Uma alma diferente que se revelava dentro dele, sem aviso.
- Vou ser pai !!
O grito lançado ao mar, à sua sabedoria imensa e o eco a repetir-se dentro do coração que pulava. O olhar vagueava ao ritmo das ondas, num vai e vem que parecendo igual, jamais o seria. E abriam-se as janelas de par em par , no desenho do sorriso feito riso que pendurava ao peito.
E de novo a angustia da ausência dela, ou da sua ausência na vida dela, ou o doloroso esquecimento dos dois.
Imaginou o filho a crescer, como ele havia também crescido. Imaginou-se a protegê-lo, como ela também o havia protegido. Pensou no vento que transforma as marés, pensou no tempo, pensou nela e uma lágrima escorregou, incauta, face abaixo.
Como posso ser um bom pai se não fui um bom filho? Como posso alegrar-me pelo futuro se me entristeço pelo passado? - E a pele a despegar-se dele, a largá-lo.
Dos olhos nascia então um mar que ao outro se acrescentava e na areia, desfaziam-se noites e dias de gélida e teimosa solidão.
No silêncio seu, despiu-se da roupa e, desnudado de tudo, entrou mar adentro com as palavras não ditas a queimarem-lhe a boca. Sorveu a espuma e o sal, trocando a vergonha, o medo e o orgulho.
O sol caía a pique, quando se ergueu da profunda transparência e, por fim, caminhando, desenhou o regresso nas pegadas que foi deixando.
Com os pés ainda nus, mas já firmes na rocha quente, olhou para trás e observou o ziguezague dos seus passos. Naquele momento, percebeu que à porta que agora se abria, escancarada, a franquear-lhe o caminho, a mãe esperava, há já uma eternidade, pelo seu abraço.
E foi para aí que seguiu, sem mais demoras, para lá chegar com o raiar da aurora e no colo dela, no amor dos seus braços, fazer as pazes com a vida, fazendo as pazes com ela.


Fotos pessoais



7 de agosto de 2010

Na memória das rosas



Plantei na linha do horizonte
As rosas que te darei no Inverno
Quando a neve cobrir em manto
A minha melancolia
E o sol pintar nelas a cor
Aquietada dos meus olhos
Serás o que delas fizeres
Enquanto esperas o ocaso
E assim nascerá o perfume
Que torna as coisas eternas
Serão elas, enfim, dentro de ti
Serei eu, assim, na memória delas




31 de julho de 2010

Há sereias nos rios


[Rio Alva - Avô ]

Há sereias que dormem nos rios
esquecidas no verde das colinas
e no musgo da história
suspensa
Neles, nos rios
embalam o canto
no encanto de serem água, apenas
gotas de um mundo maior
em lágrimas mudas
e vidas serenas

[Rio Ceira - Góis]

25 de julho de 2010

Ao sol



Cedo à transparência do sol
porque tudo é breve
e o brilho tem de vida
apenas o segundo
que antecede
a queda previsível
das folhas mortas
na sombra improtelável
dos dias findos



(Ft. pessoal )

19 de julho de 2010

A utopia dos desejos


Na cor doce e suave do toque, o seu cabelo era mel e havia um brilho amendoado nos seus olhos, onde pressenti esconderem-se as pontas soltas de doze outonos de solidão. Era uma menina e chorava.
“ Não devia ter nascido!”- disse-o como quem solta do peito o derradeiro sopro, contraindo-se na espera de um eco inverso. Mas foi um grito o que senti, um grito que se me colou sangue adentro, até à dor impossível nas minhas entranhas.
Abracei-a.
“ Princesa, não é culpa tua!”.
O olhar dela agarrou-se ao meu. Náufrago. Salvo do abismo eminente por falta de um colo, de um beijo, de um afago. Salvo da vertigem recente, no mergulho negro de uma jangada de comprimidos. Salvo da desistência, no vergar da tenra esperança. Salvo para tudo, quem sabe o quê…
Desejei levá-la comigo, para lhe perpetuar na alma a força dos rochedos.
Desejei ter na mão uma magia própria, capaz de tocar o coração desabitado dos pais dela e de todos os outros também. Corações desertos de memórias e perdidos de si . Lembrar-lhes que é preciso sentir-se amado e desejado, para se conseguir aceitar da vida o que nos açoita e nos rouba o sol, ás vezes. Dizer-lhes que nenhuma gaivota voa livre, no saber desesperado de terra ausente que a acolha e a aconchegue dos cansaços do vento e da espuma alvoraçada do mar.
Desejei....
Mas sei tão bem, que há dias em que o sonho é o traço possível no horizonte imperfeito e outros em que o pesadelo é uma equação insolúvel.
Abracei-a de novo. Procurei dentro da emoção apertada, as palavras certas. Palavras isentas de ocos sentidos e outras banalidades. Nada. Só o abraço e o silêncio, possuíam a lógica do gesto próprio para aquele momento. Na dor, ofereci-lhe o óbvio e nada mais.
“ És tão bonita, e é tão bom viver…”.
Apertou-me contra si e, com o rosto cansado apoiado no meu ombro, disse-me baixinho:
“ Eu não queria…, eu não quero morrer. Mas estou tão triste..”


Hoje, passados alguns dias, busco a serenidade impossível na utopia dos desejos. Sei que ela virá, porque outros olhos me esperam. Olhares brilhantes ou baços, com outras dores, à espera dos meus braços e das palavras que, tantas vezes, não encontro.
Na procura, cruzo-me com Fernando Pessoa e descubro na sua poesia, o abraço que preciso para chorar.

“ A miséria do meu ser “

A miséria do meu ser,
Do ser que tenho a viver,
Tornou-se uma coisa vista.
Sou nesta vida um qualquer.
Que roda fora da pista.

Ninguém conhece quem sou
Nem eu mesmo me conheço
E, se me conheço, esqueço,
Porque não vivo onde estou.
Rodo, e o meu rodar apresso.

É uma carreira invisível,
Salvo onde caio e sou visto,
Porque cair é sensível.
Pelo ruído imprevisto...
Sou assim. Mas isto é crível?

Fernando Pessoa




16 de julho de 2010

As fendas dos muros



Por entre as fendas dos muros...

ouvem-se os lamentos
no ranger das amarras
e rasga-se a cal
pela força dos punhos

Nas fendas dos muros...

renasce a esperança do grito
temperado de sal
e o ruir das muralhas
no sopro nos medos

Das fendas dos muros...

escorre a seiva em cascata
ao abraço das mãos
que prolongam a vida
no encontro dos dedos

Fotos Pessoais



12 de julho de 2010

No meu tear



No meu tear
Junto os fios de seda branca
E neles, fio os dias
Mesclados de sonhos e palavras
Pétalas e folhas de um girassol
Que inquieto
Vai tecendo nas noites frias
O amparo desta alma de poeta
E nela sossega
Quando a vida
É um denso e inefável nevoeiro


10 de julho de 2010

Isto dá que pensar (6)




Não existe direito, dignidade, justiça ou moral...




... quando a punição de um crime é feita com outro crime.

Não existe nada, para além de insanidade!!


6 de julho de 2010

Razão ausente




















Sonegada a beleza de te recriares, pensamento
Juras conhecer os baldios e os riachos frescos
Que limitam o pulsar das tuas veias.
Choras e ris e sangras por fim
No desesperado deserto que te seca a alma.
E porque não tens força para te segurar nas manhãs,
Nos gestos, nos rios ou no que sobra deles
Tornas-te órfão das carícias sepultadas no tempo
Acreditando que da tua seara
Crescerá a côdea diferente
Que abalará toda a terra.
Engano teu
Coisa mesquinha



1 de julho de 2010

Metamorfose




Já é tarde!

Fecha o portel que nos abriga
e vem comigo,
açoitar a noite malfadada,
espantar os corvos e a penumbra
e aqueles que de lava quente se alimentam,
enquanto nos lamentamos.

Já é tarde!

Fugiram as horas e o cantar das cigarras
e a luz vestiu-se negra,
consumida pelo nada.
Deitemo-nos nas cinzas mornas,
será aí, confinados à mais pequena ostra
e no tremor do corpo em convulsão,
que faremos a inversão do tempo
e por entre as nesgas do sol,
renasceremos pérolas raras
enquanto de mãos dadas diremos

Está na hora!


28 de junho de 2010

Na obscuridade do medo




Nascem mudas as denúncias dos dias,
Asfixia plena do universo
Que deslumbrado se perde no rodopiar dos astros
Enquanto se dilaceram as feridas.
São os ecos do silêncio
No alinhavo dos lábios,
Ou a angustiada cobardia
De nos vermos trémulos,
Diante da própria sombra.



25 de junho de 2010

Inconsciência
















Julgaste-me coisa inerte
Quando nos meus sonhos
Não encontraste nada mais que o teu castelo
Julgaste-me pedra de ara, angular
Anta dos teus enganos
Que respira apenas a humidade dos teus beijos
No silêncio nosso de madrugar
Por isso, gravas-te em mim o teu nome
Indelével esquecimento
Para que sobre a cal que me cobre o corpo
Nada mais possa ser escrito
Para além da tua consciência
Ou da insanidade dos deuses
Mas sempre que te mirares
No profundo lago que me cerca
Encontrarás o assombro da tua própria cegueira
No reflexo que sobre as águas
Denunciará a minha alma germinada



22 de junho de 2010

Preciso.te




Preciso saciar-me em ti
Entrelaçar as memórias nos teus olhos
E sentir-te marear no meu corpo
Contornando as minhas tempestades
Preciso que me recebas assim,
Candeia faminta sem luz
Na dor que me atormenta, gota a gota
E nela, te faças rio de água minha, salina
Depurada em tua boca





19 de junho de 2010

a Maior Flor do Mundo




porque as flores Maiores...


jamais murcham, secam ou morrem!


15 de junho de 2010

À procura da esperança

















Desenharam-me imensa
Para embalar com o olhar a dor que te aperta,
Traço negro e redondo

De todos os contrastes e assimetrias,
Desassossegos e lagos de solidão
Feitos marés e maresias.
Aí flutuo em vagares e assombros,
Rasgando nas tuas pálpebras
O traço preciso de um ténue sorriso ,
Brisa de todas as manhãs .
Desenharam-me imensa
Para partir vida fora,
Pé- ante- pé, dentro do meu corpo
Alma sem bússola
Barco sem porto
À procura da esperança
Que haverá de salvar o mundo ,
Sinal rarefeito
No olhar límpido e perfeito, de uma criança