21 de fevereiro de 2013

Antes que as asas se partam















Nem sempre sabemos
Se o que nos inquieta na morte do dia
É a ausência do sonho
A decrépita solidão a cair sobre a pele
Ou o silêncio imposto ao nome das coisas.
Entre o que sentimos e o que não sabemos
Tememos o fim das palavras
O não conseguir dizer mar ou gaivota
Antes que as asas se partam.
Por isso nos vigiamos por dentro
Rasgando dos punhos a nascente dos mastros
Verbos de ser
Princípio e fim de todas as coisas.
Com uma réstia de sol presa à cintura
Agarramos os olhos à única chama que arde
E sobre a névoa dos telhados das casas
Escrevemos poemas
Vozes de nós em desassossego de sombras
Pequenas flores expostas à beira da alma
Numa quase inútil melancolia de fim de tarde.



12 de fevereiro de 2013

Depois mais nada


Mirjam Delrue

Crescer foi só aquela vertigem de apanhar no chão o teu último beijo.
Depois, depois mais nada.



5 de fevereiro de 2013

Instância

















Mesmo que  uma dor indistinta
me rasgue os olhos abertos
hei-de procurar a luz primordial
no sangue das pálpebras
e não haverá nenhuma insónia
que mate a minha noite quieta
nem nenhum punhal 
que impeça a minha voz de viver 
ou de morrer dentro das palavras.



*