Nem sempre sabemos
Se o que nos inquieta na morte do dia
É a ausência do sonho
A decrépita solidão a cair sobre a pele
Ou o silêncio imposto
ao nome das coisas.
Entre o que sentimos e o que não sabemos
Tememos o fim das palavras
O não conseguir dizer mar ou gaivota
Antes que as asas se partam.
Por isso nos vigiamos por dentro
Rasgando dos punhos a nascente dos mastros
Verbos de ser
Princípio e fim de todas as coisas.
Com uma réstia de sol presa à cintura
Agarramos os olhos à única chama que arde
E sobre a névoa dos telhados das casas
Escrevemos poemas
Vozes de nós em desassossego de sombras
Pequenas flores
expostas à beira da alma
Numa quase inútil melancolia de fim de tarde.