29 de maio de 2013

As tuas mãos, ainda



Rodo a chave
e há no ar um aroma de ventre 
que me acorda.
A memória levanta do silêncio
o abraço das vozes
e o tempo recomeça
no mesmo lugar.
Delicadamente, um pedaço de luz
afaga as paredes
repletas de história;
sobre a mesa
as tuas mãos, ainda
e, então sim, inteira 
me completo.


25 de maio de 2013

Das páginas que se escrevem





Numa página em branco
escreveu a lua, em plena tarde
o caminho de um novo poema
como se todas as direcções
rimassem no universo das coisas.




20 de maio de 2013

Na metade de um sol inteiro




E eis que chego aqui
ao que julgava ser
a metade de um sol inteiro
e, no entanto
é o efeito da penumbra
que torna bem mais claro
nos meus olhos
o valor das coisas belas.


15 de maio de 2013

Vou...



Tenho a mala aberta e a vida ali
espalhada, contigo dentro.
Nada mais tenho para levar comigo, senão
este corpo gasto e um ou outro gesto
deixado ao acaso em cima da mesa.
O tempo consumiu tudo o que dissemos, meu amor
enquanto nos amámos até à exaustão das sílabas.
No vinco gelado do meu rosto, o teu beijo
foi quanto bastou para esgotar todas as manhãs
nas pálpebras cerradas do único adeus possível.




10 de maio de 2013

insignificância




um quase nada
tão pouco
plenitude desmesurada
de um fio raro de água
que se depurou, gota a gota
no fundo dos dias sem esperança.




2 de maio de 2013

A sós comigo


duy huynh

A sós comigo
leio o que o tempo escreveu
nos sulcos vincados do meu rosto.

Rasuro o inútil e escrevo de novo
quem sabe encontre
uma outra narrativa para a minha história.