24 de dezembro de 2008

Bom Natal..... Feliz Ano Novo!

Que o espírito de Natal permaneça em todos os corações e em todos os dias do ano!

O que de melhor poderia eu desejar-vos ?

21 de dezembro de 2008

Pessoas singulares II


Irena Sendler
A Mãe das crianças do Holocausto
1910 - 2008

Demonstrou uma força, uma convicção e um valor extraordinários frente a um mal de uma natureza extraordinária.



Em tempo de solidariedade, generosidade e todas as outras virtudes esquecidas ao longo do ano, recordo esta mulher de olhar doce e coração dolorosamente cristalino.
Por muito que caminhemos, longe estaremos de nos aproximarmos dela.
Ela foi uma pessoa singular!

11 de dezembro de 2008

A carta que subscrevo....

Querido Pai Natal, espero que esta carta te vá encontrar de boa saúde na companhia das tuas renas....

10 de dezembro de 2008

A nossa casa....

A nossa casa...

Não é apenas um tecto, o conjunto das paredes, a soma das divisões

A nossa casa é um aconchego onde se vivem desejos e se choram frustrações

É o limbo doce, a miragem que muitas vezes dá sentido

Àquela nossa viagem, onde fomos sem abrigo

A nossa casa...

É o melhor lugar do mundo

Onde tudo começa e acaba, nos consola e nos afaga

Mesmo em silêncio profundo

A nossa casa é o nosso canto, o nosso porto seguro

De onde partimos, onde atracamos

O passado, o presente e o futuro!

1 de dezembro de 2008

E porque não?

Gosto de coisas simples, dos detalhes

Gosto de me sentir viva, real

Não preciso de gostar do que não sinto

Preciso de sentir, ponto final.

29 de novembro de 2008

( Ímpar)





Como é ímpar
Na moldura de uma cama
Um par
Quando se ama!
Fernando Tavares Rodrigues

25 de novembro de 2008

Abandonos

Perco-me no tempo, mas não estou perdido
Tenho um labirinto nas mãos.
Nele, sábiamente vivo
Sózinho entre irmãos

Queres ouvir o que digo?
Presta bem atenção!
A solidão é o meu abrigo
A tristeza a minha prisão

Outrora fui esbelto e fui ouvido
Por crianças e jovens de então
Hoje para aqui estou , vendido
A minha sorte, na tua mão

O saber que em mim encerro
A ti não serve, nem cabe
Não tens tempo, na verdade
Para ouvir o que espero

Um dia, cá não estarei
e se por acaso deres por isso
lembra-te onde eu fiquei
quando me negaste um sorriso!



(...) a sageza não se herda, conquista-se; (...) SERRÃO, 1970

19 de novembro de 2008

O mundo dos contrastes...(V)

"Quem semeia ventos, colhe tempestades "

E se um dia o mar zangado, apenas devolver

ao homem, tudo o que ele hoje lhe dá?

15 de novembro de 2008

Pessoas singulares (I)

João Villaret
1913 - 1961

Declamava poesia como ninguém!





Em pétalas, nasces e és!
Por isso murchas precocemente.
Teu aroma voa no mundo,
De boca em boca.
És unico, sim!
Eternamente.

8 de novembro de 2008

Esperas eternas


Há sempre alguém que precisa de nós
Alguém que não sabe que existimos
Alguém que está à nossa espera
E nós…
Passamos o tempo à espera de outro tempo,
Para chegar onde devemos estar agora!
E nesta espera nada mudamos,
apenas ficamos, impávidos.
À espera!

1 de novembro de 2008

Esta cidade que eu amo

"Que outra cidade, levantada sobre o mar

À beira-rio acabou por se elevar

Entre dois braços de água

Um de sal outro de nada

Água doce água salgada

Águas que abraçam Lisboa ..."

"Moro em Lisboa" - Madredeus

29 de outubro de 2008

Silenciosa intimidade


De todos os pensamentos, de todas as angustias
De todos os barcos, de todos os rios
Eu escolhi-te a ti,
Silenciosa intimidade, poder supremo,
Arvore que se ergue invisível a sol algum.
É contigo que falo...é a ti que recorro,
Quando perdida estou dentro de mim mesma.
Escolhi-te a ti !
Serás a mensageira do que sou,
A protectora do que dou .
Ouvirás e crescerás como uma rocha, um diamante .
Encerrarás em ti mesma tudo aquilo que virei a ser,
Darás depois,
Quando a aurora não mais brilhar,
Quando o pensamento se diluir no tempo
Darás então,
Como um fruto que caí maduro..
A memória do que conquistaste, do que conseguiste,
E a perpetuarás no coração daqueles
Que amarei para sempre!

28 de outubro de 2008

Desafios

Atrevamo-nos a viver e saberemos quem somos,

a nossa verdade flutua na experiência de nós próprios !

E grandes seremos.... porque não nos desperdiçámos !

16 de outubro de 2008

Espero por ti!


Teria sido tão fácil se tivesses fixado os meus olhos,
Teria sido tudo tão mais fácil ...
Porque não sentiste o teu peito a bater?
Porque não ouviste a voz dos passáros?
O barulho do mar?
Pedi-te tanto.
Cheguei até a suplicar...
Que olhasses o horizonte enquanto andavas,
Que chorasses em vez de rires de ti próprio,
Que te aconchegasses a mim, mesmo sem teres frio...
Ah, como teria sido tudo tão fácil!
E assim se perdeu um tempo,
Que sendo nosso nunca o terá sido,
Assim se perdeu tanto de nós ... tanto de ti...
Que tal como a areia nos dedos ,
Senti fugir para longe de mim!
E chorei... e gritei... com angústia e ás vezes mágoa!
Lutei, lutei...lutei !
E cansada, esgotei.
Sento-me á beira deste rio, de pranto e tristeza
Serenamente eu espero que tu venhas,
E desta vez, fixes os meus olhos e digas:
Deixa-me chorar contigo, Mãe!

14 de outubro de 2008

O mundo dos contrastes... ( IV)

Na pobreza...

Na riqueza...

VIVER, NÃO VIVER OU SOBREVIVER

Eis a eterna questão!


13 de outubro de 2008

No feminino... e no plural!


A todas as Mulheres...
Mulheres batidas, sofridas
Mulheres esquecidas!
Mulheres de sorriso escondido...
perdido,
Mulheres vendidas!
Mulheres que choram e imploram,
resgatar o direito,
de viver simplesmente,
olhando de frente,
um mundo imperfeito.
A todas as Mulheres corajosas,
belas,vistosas..
Mulheres de perfil!
Mulheres que vivem lutando,
no trabalho ou estudando,
num mundo servil...
Mulheres que de filhos nos braços,
distribuem pedaços
de portas fechadas.
Ou esperam o dia, com a alma vazia
chorando, coitadas.
A todas essas Mulheres,
essas e outras que timidamente...
vivem assim na penumbra,
do inferno escondido,
de um mundo indiferente;
Eu ofereço a minha voz de Mulher,
para que gritem mais alto
e se façam ouvir,
E que na noite o sol nasça
Mulher cheia de graça
Com todas as portas a abrir!

6 de outubro de 2008

Não me digam que não podem!

Não são os grandes discursos que mudarão a história, são sim os exemplo de vida que constroem histórias, que transmitem esperança a quem não acredita que é possível mudar o mundo.

2 de outubro de 2008

Em busca do infinito!

Há momentos em que, parecendo-nos tudo hoje, igual a ontem, há um pequeno traço, uma pequena brisa, um singelo gesto que vem tão somente marcar a diferença e soprar-nos ao ouvido até que a alma oiça, sinta e veja o quanto estamos rodeados de seres magnificos cuja busca pelo infinito transparece como aura, até na voz e no olhar.

Foi assim que me surpreendeu uma amiga, que desconhecia ser poeta, ao oferecer-me o seu livro " Deus na minha poesia ". O gesto, que trazia em forma de laço uma dedicatória, tocou-me comovidamente a alma, pela descoberta de que embora por caminhos diferentes, buscamos na vida coisas semelhantes deixando por vezes o rasto de uma vela perfumada...


" Vela Perfumada "
( A minha constante procura do Divino)

Nas profundezas da Alma
Busco respostas para os meus-porquês...
Encontro em cada esquina da Vida
Sombras disformes da realidade sonhada
Qual inocente criança à espera de crescer.
Vislumbro, ao longe, um clarão disperso
De um Futuro indeciso
Espreitando, tímido, um tènue Passado.
Vivo o Presente como dádiva
Enlaçada por Mão Divina
Que me proteje e ilumina.
Esvaindo com a Noite
A Vela Perfumada
Dos meus Sonhos!...

Helena Nunes in "Deus na minha poesia"

23 de setembro de 2008

A propósito de persistência....


História da lebre e da tartaruga sem U’s


Todos os dias, na verde floresta pintada em tons primaveris, a lebre, elegante mamífero roedor herbívoro da ordem dos lagomorfos, vangloriava-se de ser o animal mais rápido da região. Não havia vertebrado e invertebrado mais veloz, e dizia-o à boca cheia. Sem receios nem contemplações.
Os animais já se mostravam descontentes com tamanha bazófia, mas lá se iam deixando ficar. Todos menos a lenta Podocnemis expansa, animal verde conhecido por não entrar em grandes correrias. Farta de tamanha tagarelice, e após ter sido gozada de novo pela veloz saltadora, fez ver à lebre o descontentamento sentido. “Desafio-te para a Corrida das Corridas”, disse a lebre exibindo de novo o físico trabalhado e aproveitando-se da irritação do animal da carapaça. A nossa amiga, cheia de determinação, de imediato disse-lhe: desafio aceitado! ( Nota do escrivão: os animais têm o hábito de dizer aceitado em vez de aceite). Todos os animais abriram a boca de espanto com tamanha coragem. De imediato escolheram a raposa, mamífero carnívoro da família dos Canídeos, para ser a fiscalizadora de tal evento desportivo. Esta escolha não foi pacífica dado os lagomorfos pertencerem à dieta alimentar do dito fiscal, levantando óbvios problemas éticos. O bom senso prevalece sempre na floresta, e a escolha foi mesmo ratificada.
De entre os Picidaes aptos para dar a largada, todos concordaram no Rei pelo passado apresentado. E foi assim… Na manhã após o repto ter sido lançado, os dois competidores estavam prontos para a partida. A lebre, como se esperava, pôs-se logo na frente. A vantagem foi sendo cada vez maior até a lenta rival desaparecer de vista. A vitória está no papo, foi o pensamento do animal com orelhas grandes, posso até descansar nesta sombra e esperar pela coitada. Dito e feito. A sombra era convidativa para esticar as pernas, e ao fim de certo tempo, os olhos começaram a fechar-se.
A soneca foi maravilhosa, o despertar nem por isso. A algazarra era enorme, e o sobressalto sentido não o foi menos. O lento animal tinha mantido a passada inicial e já estava a chegar à meta. Não havia nada a fazer. A corrida estava irremediavelmente perdida. Agora só lhe restava chorar.
O texto é daqui
Moral da história:
1 - Ser trabalhador e persistente na perseguição dos nossos objectivos é, mesmo quando a derrota parece quase inevitável, o principal meio para os alcançarmos.
2 - Se confiarmos demasiado no nosso sucesso e nada fizermos para o obter, o fracasso, mais dia menos dia, irá surpreender-nos.

18 de setembro de 2008

A Paixão pelo saber

assinaturas personalizadas

Sócrates, filósofo grego que viveu entre 470 e 399 a.C, afirmou: “ Só sei que nada sei”. Esta frase famosa e vulgarmente utilizada, reflecte uma posição de humildade, face ao saber, como algo que está fora de nós, que não possuímos mas que devemos amar, buscando-o incessantemente.
A procura do conhecimento, como algo que nunca se possuí, transforma a forma como direccionamos a nossa vida e as nossas reflexões, numa manifesta vontade de aprender em cada momento, com cada experiência nossa e também com a dos outros.
Num mundo tão vasto, a capacidade criativa do homem e da natureza, acrescentam a cada segundo um universo de saberes e novos mistérios que nos deve impulsionar constantemente para a descoberta.
É esta paixão pelo saber que queremos que crianças e jovens sintam , que todos nós devemos cultivar, abdicando de posturas egocêntricas de sabedoria suprema ou da resignação da própria ignorância.
Ignorantes sim! Porque para além do facto de se ter consciência que nada se sabe, ser o primeiro passo para se procurar o conhecimento, ao assumirmos interiormente a postura humilde da aprendizagem, ficamos disponíveis para a vida e para tudo o que ela tem para nos ensinar.
E há tanto para saber…..

SABER SER... SABER ESTAR ; SABER SENTIR... SABER DAR;
SABER SABER… SABER FAZER;
SABER APRENDER…SABER EVOLUIR.




16 de setembro de 2008

O Altruísmo

(...) A flor do altruísmo

não medra no charco da mesquinhez.

É preciso que o selo do coração

seja repetidas vezes rasgado

pela chama da própria negação,

lavrado com o sal do desapego

e regado todos os dias

para que a munificência da vida atinja

a sua plena floração...

Mais do que de energia poética,

o homem precisa de um novo coração...

E não basta reformá-lo e estimulá-lo

em óleo canforado da filosofia moral,

é preciso regenerá-lo

e isto é obra de íntimo pessoal. (...)

Benny Franklin (Flor do Altruísmo)

12 de setembro de 2008

Tábua

As Vilas, podem ser Cidades dentro de nós.....



Tranquilizando-nos a alma com as suas paisagens....


Acolhendo a nossa vida nos seus singelos recantos....


Provocando o encontro da nossa intimidade com a sua história, transformam o nosso percurso e acrescentam nele aromas, experiências e sensibilidades, particulariedades de vivências plenas.


8 de setembro de 2008

O mundo dos contrastes...(III)

"A Humanidade deve à criança o melhor dos seus esforços"*
.... A dívida é imensa, vergonhosa e eternamente irreparável!



* Declaração dos Direitos da Criança - 20 de Novembro de 1959

5 de setembro de 2008

Nada é impossivel de mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.
Bertold Brecht

4 de setembro de 2008

Nós somos os espelhos....

Podemos andar distraídos, ocupados ou indiferentes. Podemos até andar deprimidos, desanimados, agressivos ou revoltados. Mas nunca nos podemos esquecer que existe sempre por perto, uma criança que se olha ao nosso espelho!

27 de julho de 2008

Almograve






O mar..... sempre o mar!






Almograve é um dos nossos cantinhos, onde o alentejo se encontra com o mar e ambos convidam o sol e o calor em cada verão, para celebrarmos todos juntos, a alegria e as férias!










A quietude da paisagem alentejana!

24 de julho de 2008

Ser fiel a um amigo



"Primeiro, foi necessário civilizar o homem em relação ao próprio homem. Agora, é necessário civilizar o homem em relação à natureza e aos animais". (Victor Hugo)

23 de julho de 2008

O mundo dos contrastes...(II)

Habitação é o lugar onde o ser humano vive, serve de abrigo da chuva, vento, frio e calor e de refugio contra ataques de outros seres humanos e animais.*
A casa onde vivemos!

A casa que vive em nós!

Lar é o local próprio do indivíduo, onde ele tem a sua privacidade e onde a parte mais significativa da sua vida pessoal se desenrola.*

* http://pt.wikipedia.org/wiki/Habitação

Um abraço


Que bom que é um abraço!
Um abraço chegado,
sonhado, apertado
um abraço sentido!
Um abraço amoroso
forte e saudoso
um abraço amigo!
Um abraço imenso
caloroso e intenso
um abraço querido!
Um abraço escrito
pintado, descrito
um abraço vivido!
O abraço que embala
que afaga e consola
outro abraço perdido!
O abraço que aquece
que pede e oferece
outro abraço esquecido!

22 de julho de 2008

O Valor das estrelas

Quando vem ao hospital, Isabel vem sempre ter comigo. Tem 40 anos, é uma mulher forte e decidida que espanta com o sorriso o receio que permanentemente a atormenta.
Mastectomizada há seis anos, conhece bem o percurso daqueles que implacavelmente, um dia, recebem a notícia de que a sua vida pode estar a chegar ao fim.
Passou por tudo, desde as consultas aos exames, passando pela cirurgia e pela quimioterapia. Conhece muitos médicos e enfermeiros de vários hospitais. Sente-se eternamente grata e costuma dizer que está constantemente em luta pela vida, uma vida à qual não dava anteriormente grande valor.
- Sabe Sra. Enfermeira, andava sempre a lamentar-me; que não tinha tempo para nada; que não conseguia ganhar o suficiente para comprar uma casa; que me faltava isto e aquilo; que a vida era uma canseira… enfim estava sempre descontente! – desabafou ela comigo, um dia.
A história da doença da Isabel é comum a muitas mulheres. Um dia sentiu um nódulo na mama, mas por desconhecimento ou por medo, adiou a ida ao médico, não evitando, no entanto, que passados quatro meses o veredicto fosse o tão temido cancro.
Foi operada rapidamente e começou, quase de imediato, os ciclos de quimioterapia que manteve durante dois anos. Disse-me uma vez, sentir ainda hoje náuseas e vómitos, quando vai à consulta de rotina no IPO.
- Há três anos que estou bem, mas vivo constantemente com este medo, como se fosse uma nuvem sempre em cima de mim.
O marido e a filha, têm sido simultaneamente o seu apoio e a sua motivação. Recuperou a sua imagem corporal há um ano atrás, quando lhe foi colocado um implante mamário, mas é na forma de viver que diz sentir-se muito diferente.
- Passei a viver um dia de cada vez. Ainda não comprei a minha casa, continuo a trabalhar e já não me lamento por isso. Dedico muito tempo à minha família e acho que agora gosto mais de mim. Sabe Sra. Enfermeira, nas noites em que o céu está limpo, gosto de me sentar na varanda a observar o céu. Nunca tinha dado tanto valor às estrelas!!

21 de julho de 2008

O mundo dos contrastes... (I)

Que pensas que és? Homem civilizado?
Abre a janela e contempla a tua natureza!
O mundo não acaba na tua porta!

18 de julho de 2008

Bom senso




"O homem poderoso que junta a eloquência à audácia
torna-se num cidadão perigoso quando lhe falta bom
senso."
(Eurípedes)

17 de julho de 2008

Coisas boas



O dia começava cedo, bem cedo. Ainda o sol se espreguiçava da dormência da noite, já Adélia revolvia a vida por dentro e por fora num frenesim de força e vontade que contagiava tudo e todos.
Era um tempo difícil. Trabalhava longe, em casa das Senhoras ricas, às vezes levava também a filha pela mão e percorria ruas e vielas como quem passa de um mundo para o outro. Para trás já tinha ficado a janta pronta, as camas feitas, a roupa estendida e outra de molho em sabonária para ser lavada à noitinha.
Naquele passo certo e corrido, Maria, a menina, era levada quase a reboque.
- Porque não vamos de camioneta mãe? - Perguntava ela, sentindo ao fim de poucos metros o cansaço nas pernas franzinas.
Adélia ás vezes sentia-se angustiada por sujeitar a filha àquele esforço, mas o que podia fazer? Não conseguia esconder-lhe a realidade, embora sonhasse com um futuro melhor e além do mais, era preciso ensinar Maria a enfrentar qualquer adversidade sem grandes lamúrias e lamentações.
– Para irmos de camioneta gastamos quatro escudos por dia e é preciso poupar filha! Vais ver que chegamos num instante e depois vais ter todo o dia para descansar.
Os quatro anos de Maria, faziam com que não pensasse noutra verdade para além daquela que a mãe lhe dizia, agarrava-se a ela com a mesma força com que segurava a sua mão e juntas atravessavam a vida.
De todas, a mais bonita era a casa da D. Mimi. Ficava num 8º andar de um edifício tão alto que quase arranhava o céu. Tudo brilhava naquele luxuoso apartamento; os móveis de madeira exótica, o chão encerado e lustroso com carpetes bonitas, cortinados e reposteiros de tecidos nobres e cores sóbrias, pratas e porcelanas dispostas numa decoração requintada. Na cozinha, espaçosa e arejada, os tachos e panelas luziam pendurados e pairava no ar um aroma doce que se misturava depois com o cheirinho do café que Adélia fazia para os Senhores, mal chegava. Quando as meninas se levantavam, a mesa da sala já estava magestosamente pronta para o pequeno almoço. A Senhora já tinha dado as ordens para a refeição seguinte que deveria ser servida à uma hora em ponto, isto depois de Adélia se desfazer em agradecimentos e desculpas por ter tido a permissão, mais uma vez, de levar a filha consigo, assegurando que ela não perturbaria nem os seus afazeres e muito menos a vivência dos donos da casa.
Maria interiorizava com atenção todas as conversas, jeitos e gestos, sentada a um canto da cozinha, num banco de madeira pintada. Nervosamente, ou porque a imponente figura da D. Mimi a intimidasse, ou porque assumia a postura formal e servil da mãe, ela esticava a saia de xadrez pregueada para que lhe cobrisse os joelhos, tal qual lhe recomendava sempre o pai.
Depois era o reboliço. Era a dona da casa que tocava na sala o sininho, dando sinal para que Adélia comparecesse sem demoras. Era o Senhor General, que Maria apenas conhecia pelo som austero da voz, que dizia: “ Tenha modos Nônô!” ou “ Fifi, a menina ainda não lavou os dentes?”. Era a menina Nônô, a mais pequenina, que vinha à cozinha pedir à Adélia que lavasse o vestido da boneca ou lhe fizesse o totó e olhava curiosa para Maria, dizendo-lhe simplesmente “ Olá”.
Ao fim de algum tempo, a calma e o silêncio iam regressando ao ritmo da porta da casa que se abria e fechava até todos terem saído.
Ficavam depois só as duas, mãe e filha, naquele que era para Maria um palácio e para Adélia uma casa de muito trabalho. Depois de saborearem um delicioso café, feito com as borras já coadas do café anterior, Adélia começava a labuta; limpava, arrumava, lavava, esfregava, polia, estendia, passava e cozinhava com a mestria do saber fazer que dez dos seus vinte anos de vida, lhe haviam ensinado enquanto servia em casa de Senhores.
Maria, sempre de volta da mãe, aprendia com ela os gestos mágicos que transformam as casas em portos seguros, asseados e confortáveis.
Só havia um sítio onde ela se perdia como criança; o quarto das meninas. Tudo era tão lindo! A colcha rosa fofinha que cobria a cama pintada de côr branco-pérola . O abajur do candeeiro que era afinal o guarda-sol da boneca que agarrada a ele pendia do tecto. A caixinha de musica com a bailarina em pontas que ela fazia rodar dando-lhe corda, atrevidamente, assim que a mãe se distraía. E as bonecas, tantas bonecas. Grandes e pequenas, como ela nunca vira senão ali. Adélia deixava-a sempre mexer nelas, tocar-lhe nos cabelos, ajeitar-lhes os vestidos. Sabia que existia uma infância roubada no olhar da filha e que aquele era um dos poucos momentos que permitia o seu reencontro. Apesar de saber que Maria tinha todo o cuidado do mundo, repetia sempre o mesmo aviso, com a firmeza das coisas inquestionáveis:
- Volta depois a pôr a boneca no sítio e não estragues nada!
Voltavam depois à cozinha e era hora de preparar o almoço. Pouco depois regressavam todos e também o reboliço e o som do sininho, com a Adélia a colocar o avental branco bordado para se apresentar prontamente à chamada. Ah! E no banquinho de madeira, lá ficava novamente a Maria sentada, à espera que se fizesse novamente silêncio.
Almoçavam na cozinha o delicioso repasto das sobras da refeição dos Senhores que eram devolvidas nas travessas, ás quais se juntava por vezes um pouco mais, que de tanta fartura, havia ficado no tacho.
À hora da sesta, Adélia estendia uma saca de serapilheira limpinha no chão da marquise. Maria adormecia ainda a sentir o beijo e a carícia da mãe, a ouvir o tilintar dos pratos e copos que ela lavava e a pensar na manhã, cheia de coisas boas que tinha vivido.


Foto: Mãe e filha - 2007 - Aquarela sobre papel reciclado.

16 de julho de 2008

Composição genial !



Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.
Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.
Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.
Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.
Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.
Que loucura, meu Deus!
Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que, as condições eram estas:
Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

Fernanda Braga da Cruz
Aluna de Letras, que obteve a vitória num concurso interno promovido pelo professor da cadeira de Gramática Portuguesa.

15 de julho de 2008

Preâmbulo

Creio no silêncio....
Na suavidade dos gestos,
Na ternura das palavras não ditas,
Creio na côr dos sentidos
Que pintam os voos de borboletas feridas.
Creio na simplicidade..
Daquilo que dou, daquilo que tenho.
E surpreendida me espanto com tudo o que sou,
Com tudo o que És... com tudo o que é belo.
E em silêncio Te alcanço,
E é em silêncio que espero!