30 de agosto de 2011

Das palavras que te deixo...




No teu olhar eu descubro
Que o mar
Tem uma cor inventada
Dentro do nosso peito
A mesma
Que a nossa pele vestiu
Quando a desnudámos.





24 de agosto de 2011

Gestos




Pega na folha amarelecida onde somaste os dias e espreme-a, até sentires caírem dentro de ti todos os gestos moribundos de que te esqueceste. É deles que tens de cuidar antes que a vida te morra, e tu com ela, sem te dares conta.



10 de agosto de 2011

Reinventemo-nos




Quando urge reinventar

Todas as formas de vida possíveis
Para além do ruído surdo,
Louco e rouco
Das gargalhadas
De gaivotas e cigarras

E o mar,

É o cenário onde pousam os olhos
De um horizonte árido e solitário

A padecer de nome…
A morrer de fome…

Tomemos a liberdade nos pulsos
E chamemos o tempo escoado
Dos poros das coisas inertes.

Reconfortemo-nos no centro do peito
Lugar onde não existem asas quebradas
Nem voos impossíveis

Plantemos árvores
Que ouvem silêncios

E deixemos que nelas amadureçam os verbos
Enquanto os úteros, semeados de palavras
Germinam gestos
De quem ainda acredita
Na força das searas
Que brotam das terras cansadas
E da verdade dos afectos.





6 de agosto de 2011

Uma história dentro de outra história



No corpo protejo o voo
de um pássaro rubro
 por um fio de luz desenhado
que dia a dia, passo a passo
conquista o que nunca tem
como deveras conquistado.

Sofre e sangra porque é carne
igual em toda a humanidade
e se sabe tão diferente
dentro de toda essa igualdade.

Um dia, será apenas
grão de pó errante
fragmento de memória
principio e fim, linha finita
névoa desfeita sem glória
como a rima dentro desta escrita,
uma história, dentro de outra história.



2 de agosto de 2011

Negra flor




Sem mais, sem qualquer outro aviso, guardaste o lenço impregnado de dias vazios e partiste, apagando os pés na areia à medida que passavas.
Não olhaste para trás, nem te detiveste um só segundo porque, se o fizesses, terias percebido como era negra a flor que eu bordava na orla da minha saia, enquanto as mãos se contorciam descrentes de luz e tempo, ausentes de luar.
É por isso que hoje, eu só amo as rugas do meu rosto, as únicas que, verdadeiramente, nunca me abandonam.