29 de abril de 2011

Flor da Vida


Nas gotas redondas de uma água não antes tão cristalina, bebeu a essência de ser, simplesmente, uma asa a voar no sentido do infinito. No centro de si, uma força contraía para o fundo da alma a razão de todas as coisas que se abraçam à misteriosa energia do amor.

Abriu o sorriso e sentiu-se singular.

Voltas? – perguntou em silêncio.
Mas não era de regressos que falava o encontro das mãos, mas sim da posição exacta das pétalas , quando se descobre a sintonia do universo.
Abraçaram-se.
Agarraram-se os dois à pele que, possuindo a mesma geometria, desfazia todas as névoas feitas de arestas irregulares e que restituía aos olhos, a circunferência pura do brilho dos cristais.
Humildemente,entregaram ao vento o que pensavam e souberam-se um imenso mar, irradiando nas ondas o idioma que as palavras desconhecem.
Nada mais simples foi preciso dizer, enquanto o ventre crescia de novo e os pássaros anunciavam a descoberta do enigma, contido na flor da vida.



19 de abril de 2011

À espera que me respires















Na exaustão dos dedos
a desfiarem rosas,

repito-me,

no murmúrio das contas
perfumadas
pelo perdão das sílabas

enquanto os verbos fogem
para longe da boca,
prolongando nela o silêncio
de não te saber dizer
o que mais me dói
sem que me trema o coração.

Frágil andor
na procissão dos afectos.

E assim serei,
a mais serena brisa
à espera que me respires.



Na procissão dos afectos, desejo a todos, uma serena, doce e santa Páscoa.
Bem Hajam!


12 de abril de 2011

De mulher para mulher



Se te falarem no brilho de cada um dos teus cabelos ou da beleza pintada nos teus olhos, não te esqueças da solidão que semearam em ti e te empardeceu o corpo, enquanto procuravas a cor certa para não chorar.

Só assim, conseguirás ver-te inteira em qualquer espelho, sem que o reflexo da lua te cegue e te impeça de pincelar a branco, todos os cinzentos que te habitam.

Depois...
depois sim, deixa que te cresçam as asas na grandeza que em ti encontras.


5 de abril de 2011

Guardado nos corais



Naufraga de ti,
Foi na areia junto ao mar
Que incrustei os lábios
E a tua sede.
E foram tantas as marés,
Que hoje apenas os corais
Sabem
Do quanto te amei em silêncio
Na depuração das águas.
Só eles conhecem o aúste
Que trago em seiva
À tua espera,
Como um cais,
Tecido nas redes do tempo
 E na visão antecipada
Do regresso dos barcos
Ávidos de beber.


Foto : José Carlos Dias Gomes - Olhares.com