30 de dezembro de 2010

A propósito do Novo Ano



Os anos passam, sucedem-se... uns tão apaticamente iguais, outros tão dramaticamente diferentes.
Mas existem anos felizes. Ou anos com dias felizes. Ou dias com momentos de felicidade.
O que importa é que existam, que se sintam e façam sentir e não passem por nós vazios ou nós, por eles, sem sentido.
Todos os anos se festeja, de uma forma ou de outra, o segundo de transição da soma de todos os dias que se gastaram nas nossas vidas e a vinda de outros tantos.
Que se festeje pois, mas mais do que isso...
Que se festeje a chegada de mais trezentas e sessenta e cinco oportunidades de fazermos um pouco mais e melhor...
Por nós, para que brilhe mais a nossa lua, vivendo alto;
Pelos outros, para que sintam que os gestos que parecem banais, são afinal fundamentais;
Pela protecção e preservação do mundo, para que não deixe de ser o melhor lugar para viver.
Que se festeje a alegria de não ver perdida a esperança de mudar o que está ao alcance das nossas mãos, quando sabemos que não podemos mudar o mundo.
Que se brinde com lágrimas ou risos o maravilhoso privilégio que é viver. Viver a sonhar e a partilhar. Viver perdendo e ganhando. Viver a crescer e a dar. Viver a amar.
Que cada um de nós, seja a gota de água, o raio de sol, a luz maior que faz a diferença. Que ame cada dia do novo ano, espelhando um sorriso, e que nenhum segundo se desperdice.

Escrevi este texto há um ano atrás e hoje, porque não encontraria outras palavras que dissessem mais ou melhor, o que vos desejo para o novo ano, reedito-o.
Sei que se anunciam dias difíceis, dias que vão apelar mais à nossa resiliência e ao nosso sentido solidário. Estejamos atentos e aproveitemos isso para crescer em humanidade.
Talvez não possamos em 2011, vir a ter tudo o que desejamos, mas que dia a dia, o próximo ano nos permita ter, exactamente, o que precisamos. Isto, parecendo ser pouco, será sem dúvida, o bastante para sermos felizes.


Com a amizade, o carinho e a gratidão de sempre, para todos...

BOM ANO !


27 de dezembro de 2010

Fazes-me falta




À beira de mim,
reduto do que sou
anelo de existência,
ajoelho-me no mar
e nele entrego o meu pretérito,
dor assilábica
de todas as rezas de invernia.

Espero-te,
como quem espera o regresso dos deuses
no resgate das conchas

E sei,
porque simplesmente sei,
que é cíclica a melodia
das ondas,
enquanto aguardo no cais
o silêncio manso
da tua chegada.

Mesmo que errante no ocaso
será a surpresa da tua voz
que dançará na minha pele,
como um hino perfumado
tremulando na alma
até à colheita,
do doce manto de tulipas brancas
que há muito crescem
serenas
à tona d' água,
crendo no beijo colorido
dos teus olhos.

Só elas sabem
o quanto me fazes falta.


19 de dezembro de 2010

Basta acreditar




Basta acreditar,
e prolongaremos o espírito do Natal
a todos os dias do ano...



Que esta seja, mais uma oportunidade de nos prepararmos para isso!

Para todos....
Com a amizade e o carinho de sempre...



14 de dezembro de 2010

Simples poça de água



Trago ao peito,
a linha descontínua
do traçado de um mapa
e todos os dias cegos,
talhados à força do impulso.
Trago nas mãos
a rocha, lava liquefeita,
travo amargo de todos os medos
que gotejam no tempo,
o fermento dos nós
no laço dedos.
No regaço,
trago um espaço
onde dançam as estrelas,
prenhes de todo o brilho do mundo,
no prolongamento do céu.
O mesmo céu, plúmbeo
que tantas vezes
me inunda a mágoa, de mar
e a vida, de néctar da uva,
sabendo-me...
simples poça de água
berço das gotas da chuva.


8 de dezembro de 2010

Onde vive o Menino Jesus



Sempre soube que o Menino Jesus vivia dentro de cada um de nós.

O que só descobri depois, é que nem todos acreditamos verdadeiramente nisso em todos os dias do ano...


" (...)
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos os dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda. (...)"

Alberto Caeiro
( Poema do Menino Jesus )

4 de dezembro de 2010

Musgo norte














Cresce a norte
o musgo verde dos presépios
e procuro nas mãos pequenas,
a magia dos sonhos de infância.
Fala-me a terra
da fome das crianças,
presa ao massacre dos pinheiros
e das figuras de gelo
agonizando, tão frias.
No céu, sem brilho
chora uma estrela perdida
e chove noite
sem vontade de ser dia.
Em mim,
caem-me lágrimas nos dedos
e seca o musgo, no sal
sem vontade de Natal.



1 de dezembro de 2010





O que te torna desumano não é o teu medo
mas a tua ignorância!

Só por isso me discriminas, 

e nem reparas
como é igual a linha redonda dos nossos olhos.