27 de fevereiro de 2012

No avesso das máscaras


                       René Magritte, Le double secret, 1927, óleo sobre tela.

Somos a metade que é, e a outra que procura ser e se desconhece.
A que chega e a que parte, na troca de dias e noites a unirem uma só realidade à beira do crepúsculo. 
E nunca são iguais os mesmos rios no avesso das máscaras, porque diferentes são os rostos que plantamos nas margens, num tempo em que não nos sabemos e sofremos por nos tornarmos conscientes disso.



18 de fevereiro de 2012

Mutismos


" Girl with a Pearl Earring " de Johannes Verme

Das paisagens que trago comigo, há um campo de malmequeres silvestres de que nunca te falarei.
Sabes, é que as palavras às vezes afastam-nos e eu escolho emudecer de verbos para que me oiças.

Que farias tu no meu campo de malmequeres silvestres?



14 de fevereiro de 2012

Somos, tu e eu



Assim 
como uma levíssima seda
respiramos a cadência de um tempo.
O nosso tempo.
A valsa das nossas horas.

Pulsátil é a condição que nos une
dentro de uma pele  que fizemos nossa.
Célula
alvéolo
casulo táctil de segredos que não revelamos.
Que intuímos apenas no desenho dos lábios
só porque nos amamos.

Assim somos
tu e eu
nesta promessa que fizemos
de nos abraçarmos para vencer o vento.


11 de fevereiro de 2012

Detalhes de poesia ( Lídia Borges)





















Aquele banco de jardim, abrigado pela árvore
tem histórias p'ra contar.
Fala de pássaros, de ninhos, de meninos a brincar.

Fala de um velhinho
que reparte pelos pombos saquinhos de afeição:
migalhas da migalha à sua mesa.
São eles os seus amigos, é com eles que conversa.
Conta dos filhos ausentes, do lar, da solidão...

Depois vem o outono expulsar os passarinhos
Vem o inverno p'ra ficar eternamente...

Porém, uma manhã, de repente
os pássaros voltam a encher de vida os ninhos,
voltam os pombos, o sol e o riso dos meninos.

Mas algo se faz diferente, alguma coisa mudou.
À tarde, naquele canto sombrio, o banco jaz vazio.
O velhinho não voltou.


" Banco de  Jardim " de Lídia Borges

2 de fevereiro de 2012

Minimidade



   Sou
      este átomo.
      Depois não sei,
      não sei o que é ser outra coisa para além de um átomo.