31 de julho de 2013

Raízes claras



Descias ao fundo do rio
de olhos mirrados,
temendo o discurso dos peixes,
e a boca entreaberta
buscando um outro fôlego
na respiração lenta dos dias.

Do que de lá trazias
nunca me falaste,
mas bastava-me ver-te regressar
da pureza das águas,
                                [sereníssima]
retomando o caudal da tua vida,
para saber o sentido do canto
que entoava das tuas mãos de silêncio.

Foi assim que aprendi a depurar a mágoa
e hoje adoço de humanidade tudo o que digo.
                           
                        [a dor, tal como tu, deixo às pedras confiada]



19 de julho de 2013

Voo raso




Antes do dia escurecer
havia uma promessa de voo no levantar da névoa
e um peito aberto a estremecer de riso.
Mas todos os caminhos sabiam
dos passos agarrados à terra;
e todos os silêncios, de horizontes perdidos.
Foram os corvos que trouxeram a noite: disseste.
E eu entristeci.
Quebradas as asas
rasante é a viagem.