2 de março de 2010

O olhar dos tristes



Há uma névoa nua, no olhar dos tristes
A sombra da sorte que lhes foi roubada
Vêem a vida desfeita, no meio da rua
A angústia de afinal, não terem nada

Soltam ao vento rezas e lamentos
Em passos lentos
Despidos no vazio das pedras e da lama
Que os chama
Ajoelham-se em luto, na terra que geme
Que treme
Rogando ao céu a trégua anunciada

Do caos, nasce então a ordem que os anima
Rasgando a vontade, sobrevivente
Haste que navega, ribeira acima
Como um sopro banhado em lava quente

E nos rios de mar lavam a dor
A alma quebrada em mil pedaços
Cobrem a memória da névoa que passou
Acendendo na vela, a luz que se apagou
E erguem-se na força dos seus braços

20 comentários:

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Olá Maria João

Belissimo e sentido poema, bem oportuno tanto é o sofrimento que grassa ultimamente por todos os lados, parabens

Beijinho

Carlos Albuquerque disse...

Não me surpreende que os seus olhos, passando por tudo o que nos tem sido dado a ver, tanto no nosso País, como lá foram, tenham encontrado o olhar dos tristes e, neles, uma névoa nua.
Sensível ao sofrimento fez desse achar um belo poema.
Beijinhos

Teresa Diniz disse...

Sim, o olhar dos tristes magoa-nos. Ainda bem que conseguem voltar a erguer-se na força dos seus braços.
Bjs

Sofá Amarelo disse...

Pasmo-me com a força que as pessoas têm para renascer do nada... algumas pessoas! Não sei se teria a força delas!

Descreveste bem em palavras ditas e sentidas a tragédia daqueles de quem Deus desviou o olhar por breves segundos...

Unknown disse...

Maria João,
eis uma linda e sentida homenagem a todos os que de olhar triste têm vivido e sobrevivido a tantas tragédias.

Beijinhos,
Ana Martins

Gisele Resende disse...

Amiga,

belo poema que nos ensina a buscar a força em transformar o recomeçar!

obrigada, sempre, pelas palavras na qual me atendo a cada detalhe pois me ensina a contemplar, enxergar também por outras visões. Visões da alma!

beijinhos

Gisele

. intemporal . disse...

.

. desta vez nada sei dizer [provavel.mente nunca soube] . antes sentir .

. o poema rasa o léxico da perfeição .

. os meus sinceros parabéns .

. todos precisamos deste verbar, como de pão para a boca .

. sempre .

.

. paulo .

.

aapayés disse...

Passo para deixar o meu habitual saudação fraterna ..
Desculpas pela minha ausência ..

Por razões não me foi possível viajar em cada um o seu blog.
Continuando com a minha viagem e espero que em breve o normal para compartilhar seus escritos ..

Un abrazo
Saudação fraterna ..

Mariazita disse...

Maria João, amiga
Descrevendo de forma magistral a triteza dos tristes, compões um poema de tal beleza que quase esquecemos os tristes de quem mostras o sofrimento.
Crias verdadeiros heróis que conseguem renascer das cinzas, "erguendo-se na força dos seus braços".
Lindo, lindíssimo, o teu poema.

Beijinho
Mariazita

Virgínia do Carmo disse...

Pequenos detalhes fazem a diferença...

Gostei muito da sua sensibilidade poética.

Beijinho

TaPê disse...

Um bom dia!!!

eu ando por frança, ja consegui um trabalho por ca numa clinica de reeducaçao, que compreende os serviços de cancerologia e hematologia, geriatria e um serviço polivalente(mais ou menos equivalente a uma medicina).

estou a gostar muito de estar por ca. foi dificil no inicio com a lingua, mas ja me vou safando, com algum esforço e aulas de frances :).

a sra. enfermeira esta boa? espero sinceramente que sim!
um grande abraço do aluno
joao paulo

Meg disse...

Maria João,

Este é um olhar muito bonito sobre a realidade trágica que muitos estão a viver.
Sensibilidade e realismo num poema tão belo, apesar do tema.
Parabéns, Maria João!

Bom fim de semana.

Beijos

Mariazita disse...

Amiga minha
Trago um beijinho de agradecimento pelas tuas palavras no "Histórias".
Já tive ocasião de te dizer por mail, mas vou repetir: o teu comentário comoveu-me.
Parece que em relação às nossas Mães nunca fizemos tudo o que poderíamos e deveríamos ter feito, não é mesmo? Comigo passa-se isso, apesar de ter acompanhado a minha Mãe até ao último suspiro: faleceu com a mão esquerda entre as minhas mãos.
Apesar disso, quando penso, parece que há uma sensação de vazio...

Beijinhos, querida amiga.
Que tenhas um bom fim de semana.

Mariazita

A.S. disse...

Maria João...

Este teu poema revela a tua grandeza de alma!
Na verdade, não se pode ser indiferente a tudo quanto de inaceitável se passa junto de nós!!!


"E nos rios de mar lavam a dor
A alma quebrada em mil pedaços
Cobrem a memória da névoa que passou
Acendendo na vela, a luz que se apagou
E erguem-se na força dos seus braços"


Beijos...
AL

João Correia disse...

A sensibilidade de sempre, a subtileza nas palavras, escolhidas do modo como só os desprovidos de qualquer outro interesse a não ser o da Humanidade dos seus pensamentos; ainda, a leveza da forma e ... é o prazer de sempre, perfurmar-nos neste cantinho, cuidado como um Bonsai.

Beijinho.

Sonia Schmorantz disse...

Maravilhoso poema, alguém para cantar os tristes...cada vez em maior número.
beijos, ótimo fim de semana

Nilson Barcelli disse...

Um poema da tristeza, da esperança ou da fria realidade?
Tudo isso e muito mais, na minha opinião, ainda que os desígnos do poeta, por vezes, sejam mais ou menos insondáveis...
Em qualquer caso, gostei da força das tuas palavras.
Querida amiga, bom fim de semana.
Um beijo.

Rosa Carioca disse...

Que sensibilidade! Não tenho palavras.

Anderson Fabiano disse...

intensidade no olhar, serenidade nas letras, doçura no sentir.
meu carinho,
anderson fabiano

nova civilização disse...

passei para deixar um abraço e bom domingo,

beijinhos,

Gisele