17 de janeiro de 2013

As tardes que moram em mim




São duas as tardes que moram em mim;

Uma é sombria
feita de pingos de chuva e da cor cinzenta do céu
refugia-se num canto da alma
a revolver o vento e a chorar melancolia
procura o certo, no que há de mais incerto 
e respira o silêncio de uma calma 
que se ama e se estranha.
Chega sem aviso
quando não oiço 
o rumor dos gestos
dos passos que me dizem quem sou
porque fui, porque chego
ou porque vou.

A outra
é alegre e luminosa
profusa de flores e de voos
e deixa os meus lábios pintados
de sorrisos e poemas.
Vem quando não sei, quando não espero
e acontece como uma brisa breve
um aroma que faz crescer o coração
até à beira da boca
pula de esperança e é tão leve
que dá ao toque das minhas mãos
a certeza das coisas mais certas.

As duas vivem em mim
delas parto para noites e manhãs
nelas soletro o meu nome
e detenho-me no verso
que preenche o anverso de cada letra.



10 comentários:

JP disse...

Essa dualidade representa a vida, Maria João.

Por vezes andamos a revolver o vento e a chover melancolia, por vezes andamos alegres e luminosos de sorrisos e poemas.

Beijinho

Mariazita disse...

Descreves, duma forma fabulosa, os estados de alma que compõem a minha vida - muito mais frequente o primeiro do que o segundo, presentemente.
Excepcionalmente belo este teu poema.

PS - Quanto às bestas... de nós é que eles fazem "bestas de carga".
Pode ser que, quando a carga se tornar insustentável, as bestas unidas dêm um coice que os mande para os quintos do inferno! (onde deviam estar há muito tempo).

Beijinhos, querida amiga

Rogério G.V. Pereira disse...

Minha Alma e Meu Contrário
Retratados nas tardes de um Poeta
Com a palavra bela e certa

Soletremos o nosso nome


Mel de Carvalho disse...

apenas um sorriso ENORME!!!!

beijo de gratidão pela (tão) bela partilha

Mel

Lídia Borges disse...

Lembrei-me de Hermann Hess – "O lobo da estepe" e a natureza dual do ser humano

Antagonismo?

Um beijo

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Há sempre o verso e reverso de nós...a alegria e a melancolia faz parte da alma do poeta.
Sempre imensos os teus poemas.

Um beijinho com carinho
Sonhadora

Bergilde disse...

Para que haja crescimento interior são necessárias essas metades,uma que completa a outra.Nem demais,nem de menos.
Bom dia!

Nilson Barcelli disse...

Duas tardes, mas um só coração...
Excelente poema, como sempre.
Beijo, querida amiga.

Andy disse...

somos uma misteriosa composição de sombras e cores...
és linda, Maria João :-)

beijinho!

AC disse...

E é no conjugar das duas (e de outras mais?) que as palavras assomam assim, belas de se tomar, belas de sentir...
De resto, para além de nós, a vida continua a conjugar-se de múltiplas formas.
Maria João, as palavras tendem a respirar em si com a maior das naturalidades.

Beijo :)