29 de novembro de 2011

Só as vírgulas rasgam desertos



Há dias em que nos sentamos no último degrau e olhamos o lugar vazio onde perdemos a vontade de ser alguma coisa. Abandonamos os braços no sentido do chão e damos ao cansaço o ombro silencioso e estéril de todas as desculpas.
Há noites escuras em que a lua desenha no céu uma vírgula, para nos lembrar do arado que só rasgando o chão consegue lavrar todos os desertos.



20 comentários:

Rosario Ferreira Alves disse...

Neste poema senti-me acompanhada... Palavras que, além de belas, revelam enorme sabedoria e sensibilidade. Obrigada:) sinto-me menos 'cansada' depois de te ler...

Beijinhos grandes!

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Não digo nada...porque estas palavras tocaram fundo e falaram do que sinto...um deserto avassalador.

Deixo um beijinho com carinho
Sonhadora

Filoxera disse...

Há dias e noites assim.
E há dias em que és o Sol de alguém e noites em que a Lua te cobre com um manto de ternura.
E aí, lembras-te que a vida te surpreende e é generosa para ti. E adormeces serena, confiante.
Um beijo.

manuela baptista disse...

depois

há uma borboleta diurna chamada Vírgula

e chama a lua para o lado de lá
do sol


um beijo

Lídia Borges disse...

Uma vírgula algures, uma pausa antes do ponto final do abandono, para lembrar que há mais caminho além do cansaço.

Um beijo

Cris Tarcia disse...

Maria João, tem dias que sinto isso mesmo. Lindo, lindo!!!

Beijos

Rogério G.V. Pereira disse...

Poeta
Peguemos então nesse arado
por qualquer ponta
por qualquer lado
Vamos?

(bem expressivo esse estado de espírito, Maria João)

antonio ganhão disse...

Belo poema narrado. Fez-me sentir vírgula com vocação de arado para todos os desertos.

Mar Arável disse...

Belo

Também eu comecei na vígula
de uma pestana
a lavrar os seus olhos

só de imaginar
que tem um arado

Bjs

Branca disse...

Querida Maria João,

É mesmo isso, a vírgula é apenas a pausa, que nos refaz as forças, para lavrar "todos os desertos".

Beijinhos
Branca

Bergilde disse...

Maria João,
Grata,muito grata pelo teu comentário recente lá nos meus registros.Foi de grande lição para mim.
Aliás,basta vir aqui e sentir o tamanho desse seu grande dom.
Abraço sincero,

Mariazita disse...

Este texto poético é de uma grande profundidade, e digno da maior reflexão.
Essa "imagem" do arado rasgando o chão mostra-nos bem como na vida há que vencer grandes dificuldades para finalmente obtermos o fruto do nosso esforço.
Gostei muito.

Minha amiga, muito obrigada pelas tuas palavras tão lindas (!) acerca do meu livro.
Fico desejando que possas dizer o mesmo do próximo...

Virei sempre que possível trazer-te um beijinho, tão doce como estes que hoje aqui te deixo.
Tudo de bom, até sempre.

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Olá Maria João

Por vezes é mesmo preciso olhar para o que ficou esquecido nas gavetas do tempo, mas, não se deve perder muito tempo com isso, sabemos que a maior parte das vezes se arranjou um desculpa, desculpas e mais desculpas, para justificar por vezes o injustificavel, peguemos pois no arado e vamos semear os sonhos que julgavamos perdidos, ou guardados na tal gaveta do tempo, do tal degrau vazio onde deixamos a vontade...

Beijinho é sempre um prazer passar neste cantinho e não deixem... quem ler isto... de sonhar, não se deixem vencer pelas noticias pela advercidade, havemos de saber superar as dificuldades, temos um campo para arar animem-se não tarda será primavera e havemos então de conseguir sorrir

Beijos colectivos

Jaime Latino Ferreira disse...

MARIA JOÃO


Querida Amiga,

Há noites em que, desenhando a Lua uma vírgula, nos lembra esta que não é um ponto final e de que a vida continua!

Beijinho


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Dezembro de 2011

Mel de Carvalho disse...

Minha amiga,
as virgulas figurativas são as pestanas do verbo, aquelas que o marginam e o cavam, mais fundo e mais basto, na alma dos desertos - tal como as pestanas oculares protegem os olhos.

Ler-te é sempre um momento alto do meu dia. Obrigada, João. Bem-hajas

Beijo daqui e o meu carinho
Mel

Andy disse...

Maria João,
que belíssimo post!
a profundidade do que escreves, a imagem, e a música...de ficar e querer voltar!

Beijos, amiga.

sérgio figueiredo disse...

quando leio uma vírgula sei que não terminou a leitura, há mais para ser lido dando continuidade até chegar o ponto final... (desenhado por uma Lua Cheia).

como ela é linda... cheia de vida, vida que cresce rasgando desertos.

bj...nho

Sotnas disse...

Olá Maria João, que tudo permaneça sempre bem contigo!

Em mais este pensamento escrito, e com a sensibilidade que todos sabemos possuir, você como sempre consegue expressar deveras bem os teus sentimentos, e esta imagem em branco e preto, é deveras perfeita na ilustração do teu escrito. Um corpo nu em posição de vírgula e que nos passa a impressão de um arado a preparar a terra, parabéns pelas escolhas sempre harmoniosas!
E assim sempre agradecido por compartilhar teus belos escritos pensados cá, e também por tuas gentis visitas e comentários por lá deixo cá meu desejo que você e todos ao teu redor tenham um intenso e feliz viver, enorme abraço e até mais!

Nilson Barcelli disse...

É humano, mão nos podemos deixar abater pelo desânimo...
Belíssimas palavras. Gostei, como sempre.
Querida amiga Mª João, tem uma boa semana.
Beijo.

Sofá Amarelo disse...

As vírgulas são intemporais e aparecem quando os pontos finais não fazem sentido!