17 de fevereiro de 2011

Perto do chão



Na surpresa de um relâmpago, viu-se a deitar fora os punhos de renda. Cravou as unhas na terra, lamentou todas as ervas daninhas e estendeu rendidas as palavras que há uma eternidade se atropelavam na boca.

Chorou.
A alma nunca é um espaço vazio e a dor é uma teia que se enleia, à volta de uma lágrima muda, tantas vezes a vida inteira.

Tão perto do chão quanto do peito trazia a vida, sentiu o colo da terra a apontar-lhe o olhar na direcção do voo das águias e percebeu que, dentro de si, grande era tudo o que não escondia em lugar nenhum.



31 comentários:

Mel de Carvalho disse...

Minha querida amiga,
um dia li uma máxima que diz mais ou menos isto:
quando caímos é com a ajuda do chão que nos levantamos... tão certo. E tão certo este teu texto que leio ao despertar. E como me enternece a mulher-palhaço (ofereço-te esta: http://noitedemel.blogspot.com/2009/01/mulher-palhao.html), nas suas meias de riscas...

Mas há sempre um o Voar em V, minha amiga, e disso se faz a tua escrita. Bela.

Tua amiga, tua fã.
Beijo
Mel

Marcia M. disse...

lindo e forte Maria parabéns! bjs!

sérgio figueiredo disse...

"...tudo era grande o que não escondia em lugar nenhum".

nada mais acertado que esta pequena/grande associação de palavras.

não corras esse risco. abre e mostra que és tu no teu potencial de um querer sem nada para esconder.

A.S. disse...

M. João,

Como diz Manuel Alegre,

... é possivel andar sem que seja de rastos,
nossos olhos foram feitos para olhar os astros!
(***)

Beijos,
AL

manuela baptista disse...

a dor desata-se
e a terra dá-nos colo

lugar onde pousam os pássaros

o outro lugar
é onde não se escondem os poemas belos!

um beijo

manuela

Mariazita disse...

Minha querida Maria João
Às vezes há necessidade de lavar a alma, chorando e deitando cá para fora o que a torna pesada.
E, depois de passada a tempestade, a águia atrai-nos com o seu voo, desafiando-nos a segui-la.

Muito obrigada pelos teus parabéns à «CASA», e, sobretudo, pelo teu carinho.

Continuação de boa semana. Beijinhos

Nilson Barcelli disse...

Não sei se a tua intenção era escrever prosa. A verdade é que acabaste por fazer um excelente poema.
Gosdtei muito, minha amiga querida.
Beijos.

Jaime Latino Ferreira disse...

MARIA JOÃO


Querida Amiga,


Perto do chão
desatam-se as cordas
em imenso trovão


Beijinhos


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Fevereiro de 2011

Carla Farinazzi disse...

Oi Maria João,

Sempre bom chorar em contato com o chão. Nos lembra que não somos nada. E que nada seremos. O cair não exclui o levantar, e por isso é bom.
"A alma nunca é um espaço vazio e a dor é uma teia que se enleia, à volta de uma lágrima muda, tantas vezes a vida inteira."

A alma é um espaço repleto. De amor, dor, choro, vitória, derrota, consciência, tudo.
Lindo texto, poesia em prosa!

Beijos, você escreve muito

Carla

Sol no Coração disse...

Maria João,

a alma nunca será um espaço vazio e a dor sempre será uma teia que se enleia...

gostei muito!

Beijinho amigo *

Filoxera disse...

É no interior de nós mesmos que se descobre tudo o que há de grandioso.
Beijos.

Rosa Carioca disse...

Quando se chega ao fundo, a única saída é subir.
Gostei muito. (como sempre)

Carmo disse...

Intenso!!!

Um abraço

Boa semana

Gisele Resende disse...

Amiga,

fiquei a meditar. Refletir... De tão belo e profundo não consigo comentar. Apenas a sentir as palavras e a olhar tb a direção do voo das águias...

obrigada,

Parabéns por tamanha sensibilidade!

(Eu gosto muito, MUITO da sua poesia. Está entre as minhas escritoras preferidas)

beijos,

bom fim de semana

Gisele

Branca disse...

Maria João,

Cheguei tarde, mas foi dos textos mais lindos e profundos que te li.
Tens um jeito terno e lindo de dizer tudo.
"...dentro de si, grande era tudo o que não escondia em lugar nenhum.", retive particularmente este pensamento, uma grande verdade. Os outros seres não são lobos maus e quantas vezes nos julgamos sós pensando que os nossos problemas são únicos, quando há tantos outros iguais ou semelhantes à espera de uma palavra nossa. Sentimo-nos mais fortes quando podemos partilhar com confiança e lealdade o que somos, as nossa alegrias, as nossa dores, o nosso ser.

E eu mando para ti um beijinho imenso e uma flôr.

Branca

. intemporal . disse...

.

.

. a alma é a caixinha infinita onde se res.guarda a representatividade do espírito .

.

. tão perto e tão longe . mas sempre tão residual . quando tudo o mais é intemporal .

.

. um beijo meu .

.

. um bom fim.de.semana .

.

.

Virgínia do Carmo disse...

é isso João... quando caímos a terra, o chão, dá-nos colo... e nada está perdido...

A tua sabedoria e a tua sensibilidade sublinham a ouro as tuas palavras... és imensa, sem dúvida...

Um grande e terno beijinho!

JB disse...

"... dentro de si, grande era tudo o que não escondia em lugar nenhum."

É uma questão de ver essa grandeza que habita muitas vezes em cada um de nós e que passa despercebida aos olhos de outros. E por vezes a alegria só precisa de ser partilhada para que essa lágrima se transforme num sorriso que toque até o chão que nos ampara...

É magnífica a mensagem do seu texto!

Beijinho

Tere Tavares disse...

Grande é o que nos faz sentir as palavras que deitas.

Beijo

vieira calado disse...

Olá, boa noite, amiga!

Depois duma prolongada e forçada ausência

aqui estou de novo, aos pouquinhos,

a visitar os amigos.

Saudações minhas

Unknown disse...

Boa noite Maria João,
aqui, um mimo para ti.

Beijinho,
Ana Martins

Andy disse...

Amiga,
belíssimo post!
as tuas palavras trazem sempre música a cada traço, adoro a música escolhida, assim como a fotografia.

Beijo imenso!

Mar Arável disse...

A chorar como a água que se precipita dos céus
lubrificamos o chão que pisamos
até ser pássaro o que de nós voa

Bj

Lídia Borges disse...

Olá Maria João,

Vim [v]ler-te e encontrei este "Perto do chão", mas não "no chão" porque os olhos seguem o voo das águias que cruzam o azul e nesse gesto tudo é renovável porque [re]visto à luz de um renascido olhar.

Gosto do teu dizer. Gosto muito!

Um beijo meu

Nilson Barcelli disse...

Vim reler o teu texto. Porque da vez anterior tinha-o feito a correr. Agora, com mais calma, já o fiz várias vezes, dada a profundidade e a beleza literária que ele contém.
E, sem exagerar, acho-o soberbo. Parabéns pelo enorme talento que ele demonstra da autora.
Beijos, querida amiga.

MariaIvone disse...

Quantas lágrimas mudas se transportam a vida inteira à beira de serem pranto...

Beijos, Maria João, a sua prosa é poema.

sérgio figueiredo disse...

onde anda a vontade, a inspiração, ou o tempo, para actualizares as tuas palavras?

Mariazita disse...

Minha querida amiga
Já passa da meia noite, portanto já é dia 23, dia de festejar!!!
Muitos parabéns pelo teu aniversário.
Que às tuas risonhas primaveras se venham somar outras tantas, pelo menos... :)
Amanhã, ou antes, daqui por umas horas, escrevo email.
Beijo muito GRANDE e carinhoso e noite feliz.

MCampos disse...

Lê-la,Maria João, é sempre um prazer, para quem ama as palavras, como eu. A sua escrita é marcante, intensa e cheia de sensibilidade. "e a dor é uma teia que se enleia, à volta de uma lágrima muda, tantas vezes a vida inteira." É um engano tentar seleccionar um excerto que mais se gostou, mas este podia ter sido escrito para mim. Aguardo o seu livro, será, sem dúvida, merecido.


Um beijinho de admiração. (aproveito o comentário da sua amiga, e deixo outro de parabéns)

Branca disse...

Querida Maria João,

Hoje tudo é grande dentro de ti, porque tudo cresceu e amadureceu num solo fértil que é a tua alma.
Venho dar-te os parabéns por existires como existes e sinto-me grata por te teres cruzado no meu caminho.
Que Deus te dê tudo o que desejas, muito amor e felicidade por toda a tua vida.

Parabéns e dias felizes.

Beijos
Branca

Sofá Amarelo disse...

Mesmo perto do chão a alma pode ser um espaço enorme e nunca vazio, onde as palavras não se rendem e migram através da eternidade à volta de uma lágrima muda!