3 de fevereiro de 2011

Erosão dos afectos



Desfazem-se, pedras,
na fricção lenta dos dias,
umas nas outras
até serem pó,
erosão dos afectos
despojados
de calor e de chama.
São almas em queda,
sofridas e sós,
partículas de cinza
iludidas e cegas
presas aos nós
de quem já não ama.
As vozes,
outrora mel escorrido dos lábios
são agora o rio infecto,
cuspido,
da alma a lamber
o melodrama
do nada que valha a pena
ser vivido.



32 comentários:

Gisele Resende disse...

Amiga,

Tu tens o dom de escrever. Linda poesia! Essa pegou fundo no meu coração. Me emocionei, senti com a alma. Vivi memórias...

obrigada. Obrigada e obrigada,

beijinhos

Gisele

Anónimo disse...

Boa noite minha amiga,
muito forte e intenso, um poema de dor e desalento, a desilusão na erosão dos afectos a falar mais alto.

Deixei-lhe um miminho no meu Álbum de recordações do wordpress, ainda não o foi levantar, estou à espera.

Beijinho amigo,
Ana Martins

Professora Lu disse...

Nossa, sem palavras.. fiquei até sem ar...
Beijos

Virgínia do Carmo disse...

João, leio sempre várias vezes os teus poemas porque tenho a sensação que de tão imensos não consigo assimilá-los de uma só vez! São de uma profundidade sempre comovente...
Obrigada, querida amiga!

Terno beijinho

Carla Farinazzi disse...

Oi Maria João!

Por aqui eu vou indo... Um calor horrível (eu não suporto calor). Um sol escaldante todos os dias e tempestades intensas à noitinha.
Tempo de grandes mudanças. Grandes aprendizados, ainda que a duras penas. Mas, nada que é fácil fica na nossa memória, não é mesmo? É preciso que se sinta uma certa dor...
E você, como anda?

Sua poesia é sensível, viva, profunda.

Beijos

Carla

Linda Simões disse...

E o teu pensar é Tanto no escrever

que nem sei o que dizer...

Vai um abraço, sem palavras

...

MariaIvone disse...

Maria João

Será que é inerente ao ser humano essa erosão dos afectos que tão bem descreve? Será que o nosso comportamento decorre de um determinismo radical que impede a liberdade de acção humana? Ou será que está na nossa mão converter essa erosão numa sedimentação estável, sólida e consolidada?

Ficam as questões, não se esperam respostas.

Beijo grande

Jaime Latino Ferreira disse...

MARIA JOÃO


Querida Amiga,


Mas se à erosão
erosão
em troca eu der
convulsão
poeira
mais é
sem que a vida
se preencha
de ilusão


Um beijinho grande


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Fevereiro de 2011

Mar Arável disse...

entretanto...

há vida nos desertos

Bjs

manuela baptista disse...

e é da matéria de que é feito o desamor

e tanta dor

na construção dura
plena
desafectadamente lúcida deste poema

que eu acredito
que há, quem valha a pena!

um beijo, Maria João

manuela

Lídia Borges disse...

É preciso que as vozes não se cansem de reivindicar, que os corpos resistam à "erosão" e os corações não se coíbam de amar.
Os afectos, último reduto da sobrevivência, são como redes sob o trapézio da vida.

Um beijo

Tere Tavares disse...

Maria,
Que seja para "as almas não pequenas"o valer a pena de sentir afeto - mesmo diante do nada.

Obrigada pela partilha.

Abraço

sérgio figueiredo disse...

apesar de tudo e da distância que há, cada vez mais, entre "nós, os humanos", ainda se pode sentir, por qualquer meio, aquele gostinho doce, afável. carinhos que pequenos pedaços de vida, que somos, saboreamos, acompanhados de ritmos, brilhantes, cheios de cor, e palavras que nos ensinam a forma, bonita, de conjugar(-mos) num leito onde tudo se veste de amor.
que bom, há sossego... neste espaço.

Carmo disse...

Olá Maria João,

Excelente poema! "São almas em queda"

A finitude do ser humano.

Um abraço

Boa semana

Dulce AC disse...

"erosão dos afectos despojados de calor e de chama..."

terra e pó
e o Sol...onde foi..?!
sinto-lhe a falta
no meu dia que abraço
e que sinto num frio
que não me deixa qualquer
alento na alma

mas não desisto...
afinal amanhã é um outro dia.

João, lindo lindo.
Retratas a vida na sua plenitude. Escreves a vida com palavras de total lucidez.
Um beijinho grande e de muita, muita ternura para ti.

Dulce

AC disse...

Maria João,
Cruzamo-nos aos milhares, mas somos cada vez mais estranhos uns aos outros...
Muito bem (d)escrito!

Beijo :)

. intemporal . disse...

.

.

. Ao sol começa a faltar lenha, a rua
por onde agora eu sigo
vai só até onde a memória a conseguir abrir

[Luís Miguel Nava]

.

.

. e eu,,, eu espero.te hoje . in.temporal.mente .

.

. um bom.domingo .

.

. e o beijo de sempre .

.

.

Nilson Barcelli disse...

Falas da erosão dos afectos num poema onde a excelência das tuas palavras é a nota dominante.
Do princípio ao fim, és genial.
Querida amiga, boa semana.
Beijos.

Branca disse...

Maria João,

Realmente sem amor nada vale a pena ser vivido, não vale apena o desamor e a pequenez de melodramas feitos do nada.

Há tanto amor que pode ser dado, tanta felicidade que pode ser criada, porquê perder tempo com pequenos nadas se a vida às vezes já é naturalmente difícil?

Os teus versos como sempre são lições de vida.
És linda.
Beijos
Branca

JB disse...

Esperemos que esse rio corra nas águas límpidas e que acordem os afectos que se perdem na aridez dos corpos...

Beijinho

Mel de Carvalho disse...

Minha amiga,
não sei de outra forma de combater a erosão dos afectos se não cuidar de cada um como se fosse único e singular espécimen de um jardim do universo.

Um enorme abraço, a ti, flor(tão) especial.

Mel

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Simplesmente lindo...quanta sensibilidade neste poema...o amor o último reduto onde nos podemos SENTIR.
Como sempre fiquei presa às tuas palavras.

Beijinho com carinho
Sonhadora

Sofá Amarelo disse...

Parece a vida (des)vivida das pessoas que hoje passam pelos dias e pelos tempos erodidas de afectos, despojadas de vozes que na fricção lenta das pedras mais não são que partículas de cinza...

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Olá Maria João

É sempre com grande prazer que por aqui passo, nesta agitada vida que é o nosso dia a dia, quase nos esquendo do pó que somos e no qual nos havemos de tornar. Poema fantastico, adorei

Beijinho e parabens

Andy disse...

Maria João,
triste mas belo...
que o sonho nunca se desfaça e haja sempre a chama da esperança a arder nas mãos que amparam o coração.

Beijo amiga

p.s. bela a música

alma disse...

Maria João,

O trabalho tem-me ocupado muito tempo mas não me esqueço dos amigos.

Esta erosão das emoções bateu forte, levando-me para um lugar onde habitei.

bj

Sol no Coração disse...

Maria João,

"São almas em queda..."
lindo ,apesar de triste...

(ando um pouco arredada da blogsfera - mas sempre k posso passo para te ler)

Beijinho amigo*

Filoxera disse...

A poesia resultou linda. É preciso é não permitir que a desilusão impeça de ver o quanto há por aí de afectos merecedores...
Um beijo.

Mariazita disse...

Tal como da erosão das pedras, também da erosão dos afectos resulta pó e cinzas.
Mas se no deserto, feito de pó, também existe vida, igualmente os afectos desfeitos em cinzas podem aspirar a renascer, qual Fénix, e sentir de novo o mel escorrendo-lhes nos lábios.
Há sempre algo que vale a pena ser vivido.

Embora as minhas palavras pareçam contradizer o que o teu poema transmite – alguma tristeza e desencanto – tenho que dizer que gostei muito dele, mas apeteceu-me deixar-te aqui uma lufada de ar fresco :)))

Continuação de boa semana. Beijinhos

Mariazita disse...

Minha querida, desculpa mas esqueci-me de uma coisa que tinha em mente.
Quero agradecer-te estas palavras:

"Abençoadas netas que te têm como avó!"

São tão lindas!(as palavras). Comoveram-me.

Mais beijinhos

rosa-branca disse...

Olá João, erosão dos afectos...deixaste-me a pensar...cada vez mais se assiste á erosão do sentir. Caminha-se cada vez mais distante de certos valores. Eu não recebi afectos, mas nem por isso deixo de os dar. Desculpa, mas vou ficar por aqui, pois comentar como eu queria fica-me a doer. Lindo e profundo o teu poema. Beijos com carinho

A.S. disse...

M.João,

Num mundo em convulsão permanente, a erosão dos afectos é talvez o que mais rapidamente leva à desagregação de uma sociedade! A tua sensibilidade vislumbra com notável exactidão o caminho que teimosamente nega a fraterna partilha de afectos.

Abraços,
AL