
Já não pertencia àquele espaço. Nem a nenhum outro. Sabia-o, desde que se imaginara longe.
Pedro, fora o único homem que amara, o único pelo qual um dia, determinada, lutara para que a protegesse, para que a chamasse sua e a levasse para um lugar só deles. Era ainda quase menina e facilmente se deixou embalar pela doçura das palavras e pelas promessas que se entrelaçaram nos desejos, como coisas eternas. Sim, é verdade que às vezes, aquele jeito dele desligado a confundia, como se ela não fosse nada ou não lhe pertencesse. Ela, que lhe entregara tudo.
Apesar de tudo, deixara que a vida lhe soprasse o rumo. Amava-o, isso deveria bastar. Mas os dias ficaram cada vez mais longos, com as viagens de Pedro, também elas longas e as noites cada vez mais escuras e mortas, sem lua, renascendo em raras alvoradas de sol radioso de esperança, quando acordava, ouvindo o som ritmado e calmo do coração dele a bater.
Mas os sonhos, não vivem só de raras alvoradas e a tristeza, minou-lhe a vida como erva daninha. Nem o filho, que pariu sozinha, lhe trouxe alegria. Prematuro, franzino e doente, também ele não a quisera e morrera sem a deixar ser, verdadeiramente, mãe. Choraram juntos, ela e ele, mas dentro dela, nascia um rio de dor que sangrando, jamais haveria de secar.
Pedro culpou-a em silêncio, o silêncio que cimentou o muro frio, estático e intransponível, entre eles. O muro que a aprisionou e a manteve ali, ano após ano, a definhar sem vontade.
Por isso, não sabe o que aconteceu dentro dela, naquela manhã sombria, mais sombria ainda que todas as outras. Pensou que fosse alguma carta importante, quando o carteiro lhe entregou aquele envelope registado e remetido por uma tal Mariana Jardim. Abriu, não imaginando que ao fazê-lo, fechar-se-lhe-ia a própria vida.
Sem outro assunto
Mariana