21 de fevereiro de 2013

Antes que as asas se partam















Nem sempre sabemos
Se o que nos inquieta na morte do dia
É a ausência do sonho
A decrépita solidão a cair sobre a pele
Ou o silêncio imposto ao nome das coisas.
Entre o que sentimos e o que não sabemos
Tememos o fim das palavras
O não conseguir dizer mar ou gaivota
Antes que as asas se partam.
Por isso nos vigiamos por dentro
Rasgando dos punhos a nascente dos mastros
Verbos de ser
Princípio e fim de todas as coisas.
Com uma réstia de sol presa à cintura
Agarramos os olhos à única chama que arde
E sobre a névoa dos telhados das casas
Escrevemos poemas
Vozes de nós em desassossego de sombras
Pequenas flores expostas à beira da alma
Numa quase inútil melancolia de fim de tarde.



14 comentários:

JP disse...

Nos fins de tarde melancólicos são propícios à poesia Maria João.

Beijinhos

Lídia Borges disse...


É este poema um verdadeiro hino à Poesia.

"Tememos o fim das palavras", mas elas são apenas o reflexo de algo infinitamente maior que, ou se tem ou não tem, independentemente da agilidade das asas.
Nada a temer, portanto. As palavras são só um meio, não um fim em si.

Um beijo

BL disse...

Por isso procuramos
palavras de encontro
como se fossem nuvens
e permitimo-nos ouvir
um silêncio de fim de tarde
atraídos pela urgência
de despir o corpo
do desassossego das horas.


Tão bom vir ao teu encontro
e saber que estás aqui :)

Beijinho grato, Maria João.

Rogério G.V. Pereira disse...

Entre a quase inútil melancolia de fim de tarde
e a sua plena inútilidade
agarremos os olhos à chama que arde

Te parece única
pois só olhas a que vês

São pequenas as flores à beira da alma?
mas somos tantas...
tantas, quanto as chamas

Bergilde disse...

Acho o fim de tarde um momento muito emocionante e que pode aguçar ainda mais a sensibilidade poética .
Abraços,bom dia!

Mariazita disse...

Maria João, querida amiga
Hoje, dia 23, trago-te um abraço , com todo o meu carinho, por este dia tão especial - o dia do teu aniversário.
Que sobre ti recaia toda a felicidade do mundo.

EU não sei o que me inquieta, mas sei que é grande a minha inquietude ao cair do dia - mais do que em qualquer outra hora.
Nostálgico, provocando saudade, batendo-me fundo... assim é este teu belíssimo poema.

Um bom final de dia de aniversário, e feliz Domingo.
Beijinhos

Maria João Mendes disse...

Escrevemos sonhos
Sempre o barco que não chegou,
É aquele que esperamos,
Mas ás vezes, eles chegam!
Por isso antes que as “asas se partam”
Voa…

Gostei imenso, mesmo muito,
Deixei-me levar pelas palavras…

(eu disse que voltava:)
E outra vez voltarei, para ler tua poesia.
Beijo

Mel de Carvalho disse...

amiga minha,

antes que as asas se quebrem estão-te destinados os céus e os amplos horizontes e a mim a alegria de te saber ai - resto de dia o melhor possível.

Feliz aniversário amiga, Joãozinha!!!

beijo e abraço,

a minha amizade sincera e a minha admiração de sempre

Mel

AC disse...

Queremos entender, queremos participar, "por isso nos vigiamos por dentro". Mas talvez não baste, Maria João, talvez só nos consigamos apaziguar por dentro quando voarmos para lá de nós.

Beijo :)

vieira calado disse...

O seu poema é muito bonito.
Tenha um bom resto de fim de semana.
Bjsss

AC disse...

Só agora li os comentários anteriores. Aniversário?
Muitos parabéns, Maria João!

Beijo :)

Filoxera disse...

Lindo, este teu poema.
E a fazer-me lembrar a canção do Represas com o João Gil, a dançar "com a Lua à cintura"...
Só espero que também nunca mais dances sozinha :-)
Beijos.

Tere Tavares disse...

...finais de tarde com inícios versados em tão belas palavras, que, não, não se findam como os dias ou as noites. Parabéns também pelo aniversário Maria. Abraço

A.S. disse...

Só o poema alimenta verdadeiramente o sonho!...


Um beijinho Maria João,
AL