Não pintaram quadros, nem escreveram livros, mas construíram verdadeiras obras de arte, tecidas com o fio da vida, de ponto em lágrima e laçada em riso.
Eram rendas, rendas que hoje permanecem connosco, quem sabe algumas guardadas na arca ou no fundo de uma gaveta porque os imperativos da moda deixaram de valorizar tais virtudes.
Tenho o privilégio de possuir parte deste espólio e de me perder inúmeras vezes nele, num reencontro com o passado.
Observo cada pormenor inscrito nos pontos altos e baixos que desenham flores e formas e tento adivinhar os pensamentos, as emoções e as vivências das suas obreiras e que subtilmente se entrelaçaram nas rendas, materializando assim as suas memórias.
Gosto de imaginar que ainda estão connosco desta forma. Sentir assim, a arte e a coragem que enlaçou as suas vidas, até ao fim.
Reconforto-me nestas lembranças, nas suas referências e nos seus exemplos e sigo em frente. Sabendo de onde venho, saberei sempre para onde devo ir.
Procuro todos os dias ser mais o que faço do que o que digo, ou então ser o que digo naquilo que faço.
Quando olho para as rendas que com mestria fizeram, sei o que permanecerá de mim um dia, se houver alguém que se reconforte também na minha memória.
Se hoje trago comigo o estandarte das minhas origens é para que amanhã, o cunho da minha lembrança tenha inscrito o orgulho de ter uma família e de ser filha e neta de quem sou!
9 comentários:
Lindo este texto, é a arte das rendeiras, tão unico...
beijo
Um texto com sentimento, muito bonito. Também a minha mãe fazia rendas lindíssimas, que ainda guardo. Vim do blog da Alexandra, e gostei muito do que li por aqui. Voltarei. Um bom fim-de-semana.
Ainda os Dias de Verão...
E se eu fosse o vento
Que te levantasse, segura
E se eu fosse a água
Que sobre ti escorresse a frescura
E se eu fosse o fogo
Que em ti procura
A alma de quem
Busca no branco a candura
E se eu em ti sossego
Esta inquietação que persiste teimosa, dura
Então, eu a ti confesso
Tudo o que sou e sinto
E em mim perdura
Beijinhos fofos
Mil desculpas
JC
Belo texto...
Recordações que nos invadem, que nos incutem sensações de outras vidas, que no seu tempo, também riram e choraram como nós, os que agora vogamos no tempo Presente...
A vida é uma corrente genética contínua, mas também um mar insondável de memórias...
Bj
António
Testemunhos de uma época.
De várias épocas.
Arte menosprezada, porque executada por mestras de muitas artes...mãos que tanto trabalhavam a terra como as rendas, numa empregando a força, nas outras o engenho.
Bela homenagem!
Com este texto fiquei a conhecer-te bastante melhor. E gostei. De um olhar como o teu só se pode gostar dele... não o sei dizer tão bem como tu (brilhante), mas também partilho dessa tua forma e orgulho de reconhecer as origens, que são, afinal, um elemento importante para saber para onde devemos ir.
Querida amiga, bom fim de semana.
Beijo.
Sempre admirei a paciência e arte
das mulheres a fazer renda.
Em minha casa todas o faziam.
Mas a partir de agora...
a arte, cá na família...
foi-se...
Bjs
Tenho andado afastado. Perdoe.
Gostei de ter chegado a este seu "reencontro com o passado", com quem sublimou obra com o "fio da vida"!
Sensibilizou-me o seu grito de orgulho por ser filha e neta de quem é!
Um beijo
o orgulho de ter uma família e de ser filha e neta de quem sou!
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Regra geral as pessoas humildes são descendentes de 'escravos'. De pessoa sem voz, em que a unica liberdade era trabalharem de dia e noite, sem hipóteses sequer de mandar os filhos à escola. E isto acontecia ainda há bem pouco tempo (a escravatura).
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Felicidades.
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