12 de abril de 2009

Post-Scriptum


Naturalmente, alguns dos meus amigos e fieis leitores dos pequenos detalhes que aqui vou escrevendo, sentiram curiosidade em conhecer a continuação ou o desfecho da história do pequeno Ruben. Sinto-me assim, no dever de acrescentar algo mais ao que já foi escrito.


Uma vida tem muitas histórias e cada uma é apenas um pequeno fragmento, um pequeno pedaço de outras histórias, às vezes de outras vidas também.
A história do pequeno Ruben, é infelizmente idêntica à de muitas outras crianças, algumas órfãs de pais, outras de amor, respeito e dignidade. Mas cada criança é um ser único, com particularidades distintas de todas as outras. Por isso cada uma nos ensina sempre algo diferente, especial.
O Ruben permaneceu internado no Hospital, durante três meses, nesse período foi sempre acompanhado por uma equipa de profissionais e amigos que lhe devolveram a esperança e o ajudaram a sair gradualmente do choque traumático que viveu, de forma a poder verbalizar sentimentos, a recuperar as lágrimas e os sorrisos e a estar pronto para retomar a sua caminhada. Porque a vida de uma criança continua como a de toda a gente, mesmo que a infância fique suspensa no tempo ou presa na dor. Por isso é tão urgente reparar as feridas e os afectos, por isso é tão importante devolver-lhe, o mais rapidamente possível, o tempo e o direito de ser criança e de ter uma família que a ame e a faça sentir novamente feliz.
Durante o tempo em que esteve internado, manteve comigo uma relação especial, como será fácil de imaginar. O dia em que ele foi embora para uma Instituição da Segurança Social que o acolheu, toda a equipa se emocionou.
Ainda me lembro do seu abraço e dos seus olhos brilhantes.
Foi muito difícil vê-lo partir!
Um ano depois, soube que iria viver com uma família de acolhimento, naquele que hoje é o processo de pré-adopção. Depois... bem, depois tal como acontece com tantas outras crianças, perdi o rasto da sua história.
Talvez tenha sido devolvido à Instituição, por não corresponder às expectativas da família que o queria adoptar, aumentando a ferida psicológica da perda e da solidão com a da rejeição. (Como tantas vezes acontece, ainda hoje).
Talvez não tenha saído mais das Instituições de acolhimento que procuram dar a estas crianças tudo o que a vida lhes tirou, mas nunca conseguem substituir uma verdadeira família.
Talvez ele tenha encontrado uma família que o tenha amado e sentido como um verdadeiro filho. Talvez ele se tenha sentido amado e respeitado como tal.
Talvez ele tenha superado aquele terrível dia em que perdeu a mãe e os outros que se seguiram sem ela.
Talvez em algum momento, ele se tenha recordado de mim. Talvez...
Hoje terá 20 anos, o Ruben. Permanecerá sempre na minha vida, como aquele menino frágil, de 8 anos que um dia me chamou o seu "anjo da guarda" e me deu um pedaço de amor da sua vida rasgada.
Outros vieram depois dele, outros virão.
Os pequenos fragmentos das suas histórias, são algumas das minhas grandes lições de vida!

10 comentários:

Mariazita disse...

Querida amiga
A primeira parte deste teu "pequeno detalhe" foi demasiado emocionante (pelao menos para mim).
A continuação é comovente, sem dúvida.
Tentando por-me no teu lugar, imagino como deve ter sido doloroso saparares-te daquele menino, especialmente porque o futuro dele era uma grande incógnita, com grandes probabilidades de ter muita dor pelo meio.
Infelizmente há muitos Rúbens por esse mundo fora, o que me leva a pensar (e já o tenho dito) que, se eu fosse milionária, a minha atenção seria especialmente dirigida para eles.

Imafino que, pela tua parte, terás dado, e continuarás a dar, muito amor e carinho a esses pequenos seres.
Admiro-te por isso; fico orgulhosa de te ter conhecido (no mínimo...)

Uma boa semana

Beijinhos
Mariazita

Mariazita disse...

Amiguinha
Hoje estou a passar um pouquinho à pressa, e só para trazer um recado...

Porque hoje é o Dia Nacional do Beijo, no Brasil, acabei de publicar um poema dum amigo meu e poeta brasileiro cujo tema é BEIJOS.
Vai ver. Penso que vais gostar.

Beijinhos
Mariazita

Mariazita disse...

Querida Maria João
Sinto-me um pouquito envergonhda por não ter dito nada após o teu comentário no Lírios..
A tal "organização" ainda não está a funcionar em pleno...precisa umas afinações :)))

Claro que adorei o teu comentário!
Mas para não me tornar mónótona, não digo mais nada!
Digo, sim, digo que no domingo publiquei novo post.
Se quiseres ir ver...

Beijinho grande
Mariazita

james stuart disse...

Muito obrigado por este, "post-scriptum". Sem ele não era possível sentir o contentamento de coisa completa.
Beijinhos.

Mariazita disse...

O autor do poema constante do meu post “BEIJOS”, Humberto-Poeta, publicou nos comentários um segundo agradecimento aos comentadores.

Como no mesmo é referido o teu nome, se quiseres vai ler o agradecimento do Poeta.

Um grande beijinho
Mariazita

PS - EU TAMBÉM AGRADEÇO A TUA PRESENÇA.

Mariazita disse...

Querida amiga
Assim muito de passagem...deixo um beijinho de boa noite.

Dorme bem e sonha com os anjos

Beijinhos
Mariazita

SILÊNCIO CULPADO disse...

Maria João

Como te entendo nesta descrição. São sentimentos como os que já experimentei e voltarei a experimentar. Às vezes procuro dentro de mim um fio condutor para estas emoções mas acho que para isso precisaria duma sociedade mais justa.
Obrigada por partilhares connosco esta experiência, por nos dares a conhecer o Ruben, por nos fazeres sentir o que é ser Ruben e que situações como esta não deveriam existir.

Abraço

Suh disse...

Senti um aperto no peito e foi inevitável não me emocionar com a história aqui relatada.
E fico pensando em quantos outros Rubens existem por esse mundo a fora, à espera de um milagre.
Sinto-me triste ao ver sofrer pessoas de todas as idades, mas quando a questão envolve seres indefesos...ai sim, meu mundo cai.
Que Deus permita ao Rubens que ele tenha encontrado pessoas do bem...assim como você!
Admiro teu trabalho e tua dedicação.
Mil felicidades pra você e que Deus te cuide!
;)

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

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