10 de agosto de 2011

Reinventemo-nos




Quando urge reinventar

Todas as formas de vida possíveis
Para além do ruído surdo,
Louco e rouco
Das gargalhadas
De gaivotas e cigarras

E o mar,

É o cenário onde pousam os olhos
De um horizonte árido e solitário

A padecer de nome…
A morrer de fome…

Tomemos a liberdade nos pulsos
E chamemos o tempo escoado
Dos poros das coisas inertes.

Reconfortemo-nos no centro do peito
Lugar onde não existem asas quebradas
Nem voos impossíveis

Plantemos árvores
Que ouvem silêncios

E deixemos que nelas amadureçam os verbos
Enquanto os úteros, semeados de palavras
Germinam gestos
De quem ainda acredita
Na força das searas
Que brotam das terras cansadas
E da verdade dos afectos.





18 comentários:

antonio ganhão disse...

Nada rasga os céus de forma mais triste do que o grasnar de uma gaivota que se perdeu do mar... e que de terras cansadas brote toda a verdade dos afectos.

Nilson Barcelli disse...

Morremos um pouco em cada dia que não nos reiventamos...
Gostei imenso do teu poema. Excelente, como sempre.
Querida amiga Maria João, tem um bom resto de semana (e/ou boas férias, se for o caso).
Beijos.

Rogério G.V. Pereira disse...

Farei tudo
o que o poema me disser
que seja necessário eu
fazer
Tomarei, contigo, a liberdade nos pulsos
Chamarei, em coro, o tempo escoado
Reconfortar-me-ei no centro do peito onde as asas estão inteiras

Por fim plantarei
a árvore que me tocar
para a construção da floresta
que ouve silêncios

Farei tudo isso
Esperando que o resto venha a acontecer
Como no poema eu acabei de ler

Rosa Carioca disse...

"Reconfortemo-nos no centro do peito
Lugar onde não existem asas quebradas
Nem voos impossíveis"

Verdadeiro! Não me canso de admirar sua poesia.

Daniel C.da Silva disse...

Parabéns. Gostei muito.

Filoxera disse...

Reinventar. Sempre. Isso é viver.
Gostei de não existirem asas quebradas ou voos impossíveis no centro do peito...
Beijinhos.

Lídia Borges disse...

Um poema que parece tazer em si um novo sopro, um novo alento, um apelo ao verde vivo da esperança. Essa que brota dos gestos crentes do poeta.

Beijo meu

Branca disse...

Eu acredito, Maria João, "na força das searas" e na "verdade dos afectos", por isso estou aqui, por tudo, pela beleza das palavras, mas sobretudo pelo que está dentro delas e porque sim, porque estou bem e gosto de aqui estar.

Beijos
Branca

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Procurar sempre dentro de nós o sonho...agarrar pequenos momentos...são esses momentos efémeros que nos dão alento para continuar a caminhada que se chama vida.
Como sempre...saio daqui plena de poesia.

Beijinho com carinho
Rosa

Mariazita disse...

Maria João, minha amiga
Penso que quanto mais se gosta de uma qualquer "obra" mais difícil se torna comentá-la.
Assim me acontece com a tua poesia, nomeadamente com este poema.
Acho-o muito bonito, mas nada me ocorre dizer acerca dele. Tenho a sensação que comentá-lo é como...devassá-lo. Deixemo-lo como está. Admiremo-lo, apenas.

Como vou entrar de férias brevemente, o post que publiquei no domingo, dia 7, é o último até meados de Setembro.
Se não nos "virmos":) antes desejo-te tudo de bom durante a minha ausência.

Fim de semana muito feliz. Beijinhos

Mel de Carvalho disse...

Reinventem-se os gestos, minha amiga, reinventem-se e repitam-se à exaustão na formulação dos impossíveis, porque, como tão bem sabemos, a vida vale pelo que, sendo semente, é também colheita e pão. E, sendo pão, minimiza a fome do outro, nosso igual.
Bem-hajas

Beijo com a minha admiração e carinho
Mel

Dulce AC disse...

Que maravilha querida João..

Sim. Que nos reinventemos vezes sem conta, sempre pelos melhores afectos..

beijinho grande grande
já de saudade.

Virgínia do Carmo disse...

Que brotam das terras cansadas...

Não vou esquecer-me destas palavras.

Beijinho grande, João, e muitas saudades!

A.S. disse...

Maria João,

Depois de uns dias de férias (poucos) venho ler-te com a ávida saudade das emoções que brotam dos teus poemas!

Um abraço,
AL

Rosario Ferreira Alves disse...

Querida M. João, este poema chegou hoje aos meus olhos e hoje era o dia em que precisava de o ler. além da qualidade poética, agradeço-te o conforto e o alento que encontro nas tuas palavras...
que bom!

um grande beijinho:)

Rosarinho

Sotnas disse...

Olá Maria João, que tudo permaneça bem contigo!

Não crer na verdade dos afetos, talvez seja o mesmo que sentir-se um zumbi, é como viver sem estar vivo!

Sempre encontro por cá belos e sensíveis escritos teus postados, e também tão lindas imagens a encimá-los, e grato por tuas visitas e comentários sempre tão gentis, eu deixo por cá meu desejo que você e todos ao redor sempre tenham um intenso e feliz viver, abraços e até mais!

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Passando para deixar o meu beijinho e ler-te novamente.

Rosa

Sofá Amarelo disse...

A verdade dos afectos muitas vezes se diluem nas searas cansadas e nas asas quebradas dos voos impossíveis...