23 de junho de 2009

De olhos fechados


Faço diariamente uma pequena caminhada desde o hospital até ao carro, e com ela retomo a vida que está para além do trabalho intenso, onde a mente e o corpo se ocupam concentradamente em cuidar da criança doente.
Neste pequeno percurso, que faço quase sempre com a serenidade de missão diária cumprida, procuro ver o que me rodeia para além do óbvio, como se tivesse a necessidade de absorver a vida que pulsa em contextos de normalidade.
Há dias, reparei num jovem que caminhava a passo ritmado e perfeitamente linear. Nada seria fora do comum, não fosse caminhar também ao seu lado esquerdo, um cão guia que ele segurava pelo arnês, depositando nele a confiança perdida nos olhos incapazes.
Acompanhei aquele percurso em que ambos seguiam compenetrados na missão de chegar a um determinado destino. O passeio onde seguiam era largo e eles, lado a lado, caminhavam sem dificuldade. A dado momento e desenhando uma curva à esquerda, o mesmo passeio apresentou-se abruptamente reduzido a metade na sua largura, pela presença de árvores seculares que lá marcam presença, oferecendo a quem passa, um misto de história, frescura e sombra verdejante, lufada de ar fresco em cidades compactadas de tijolo, automóveis e poluição.
Não consegui detectar um único segundo de hesitação do cão, nem qualquer passo mais reduzido do dono. De imediato, o Labrador encostou-se totalmente ao muro, de tal forma que era possível ver o seu pelo claro a roçar na parede rugosa. Ambos continuaram o caminho, no mesmo ritmo, na mesma concentração.
Talvez o jovem nem se apercebesse que entre ele e as árvores, sobravam apenas alguns escassos centímetros. O cão guia, esse sabia com certeza que para o seu dono caminhar seguro, era preciso comprimir o seu corpo, o máximo que pudesse, contra aquela parede.
Fiquei a pensar nesta lição de confiança e amizade.
Fiquei a pensar em quantos de nós, em tantos momentos da vida, sentimos a falta de alguém que nos ofereça amizade e segurança, caminhando ao nosso lado. Alguém em quem possamos confiar de olhos fechados.

12 de junho de 2009

Dá que pensar...




"A vida é uma pedra de amolar:
desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal
de que somos feitos. "

(George Bernard Shaw)




Imagem
Moinho de Mãos - Tapeçaria Artesanal de Cândida Rocha
São Vicente - Cabo Verde

4 de junho de 2009

Retalhos


Pintei no tempo, uma paisagem

Quadro de vida em muitas cores

Recortes de bruma e vento

Em mar salgado, nos Açores


Das nove, foi na Terceira

Ilha de nuances e perfumes

Onde as ondas gemem seus queixumes

A rocha é quente e a terra soalheira


Lá, pintei o sol a lua e um paraíso

Tecido em retalhos de verdura

Lá, toquei a chuva e soltei o riso

Em silêncios de amor e de amargura


Gravei na alma as cores e os olhares

E todas as pérolas que encontrei

Ficaram no coração os lugares

Nesse quadro de vida que pintei




1 de junho de 2009

Para que nenhum dia seja diferente...



CARTA DE UM FILHO
A TODOS OS PAIS DO MUNDO




Não grites comigo.
Quando o fazes, estás a ensinar-me a gritar também embora eu não o queira fazer e eu passo a respeitar-te menos.

Trata-me com amabilidade e cordialidade, como fazes com os teus amigos.
Por sermos família não significa que não possamos ser amigos.

Não digas palavrões.
Eu vou aprender a dizê-los, sem mesmo saber o que significam.

Quando te enganares em alguma coisa, admite-o.
Isso vai melhorar a minha opinião a teu respeito e ensinas-me a admitir também os meus erros.

Não me compares com ninguém, em especial com os meus irmãos.
Se me comparas melhor que os outros, alguém vai sofrer. Se me comparas pior, sou eu quem sofre.

Não digas mentiras à minha frente, nem peças que as diga por ti.
Fazes com que eu deixe de acreditar no que dizes e eu não quero isso.

Deixa-me valer a mim próprio.
Se fizeres tudo por mim, eu não posso aprender a fazê-lo.

Não me dês sempre ordens.
Se me pedires para fazer alguma coisa, em vez de me dares uma ordem, eu o farei mais rápido e com mais prazer.

Não mudes tantas vezes de opinião sobre o que devo fazer.
Decide e mantém essa posição.

Cumpre as promessas que me fazes, as boas e as más.
Se me prometeres um prémio dá-mo. Mas preciso que o faças também se for um castigo.

Procura compreender-me e ajudar-me.
Quando te conto algum problema, não me digas: “ Isso não tem importância” porque para mim tem.

Não me digas para fazer alguma coisa que tu não fazes.
Eu aprenderei a fazer sempre o que tu fazes, mesmo que não o digas. Mas não farei o que tu dizes e não fazes.

Não me dês tudo o que te peço.
Ás vezes, só peço para ver o quanto posso receber.

Ama-me e não te canses de me o dizer.
Eu preciso do teu amor e gosto muito de te ouvir dizê-lo, mesmo que tu aches que não é necessário.


Anónimo


.....PORQUE O DIA DA CRIANÇA É CADA DIA DE TODOS OS DIAS DO ANO!......