12 de julho de 2012

Uns pelos outros



Podíamos esperar uns pelos outros à beira de um lago cheio de azul.
Um fio de seda caberia na distância entre nós, e o espelho de água seria uma superfície clara onde entregaríamos, completos e íntegros, os traços dos nossos rostos. Os rostos e as palavras com que nos abraçaríamos. 
Podíamos estender os dedos à partilha da pele e sentir na alma a semelhança, na diferença das lágrimas. 
Podíamos caminhar lado a lado porque, afinal, os caminhos são tantos, mas as pedras são pedras e as asas são asas. 
Podíamos sonhar um sonho comum; como uma cesta de estrelas ou um pedaço de pão dividido pela fome e indiferente ao tamanho das bocas. 
Podíamos esperar uns pelos outros, mas a vida é tão breve e cada um de nós tem tanta pressa.



Pintura; Here Comes the Flood de Rob Gonsalves

12 comentários:

Mel de Carvalho disse...

minha amiga do coração...
podíamos, não, devíamos!!!

MAS

... "a vida é tão breve e cada um de nós tem tanta pressa"... :(

beijo e o meu carinho, além desde sorriso imenso que geraste agora no meu peito
a admiração feliz de te ler.

gratidão,

Mel

Virgínia do Carmo disse...

Querida João, eu fico sempre presa no espanto de te perceber tão grande quando te leio.
Ainda não percebemos que a pressa nos afasta de nós próprios... é tão triste! E é a poesia que nos salva da tristeza.

Um beijinho enorme, já de saudades!

Lídia Borges disse...

Uma ansia de viver que desmorona em vez de edificar.
O homem, entregue ao seu individualismo, não se realiza transportando o pedacinho de azul que lhe cabe. Quer levar o rio todo e, sozinho, o que alcança é a margem mais distante, a margem-solidão. Então, a pressa se faz vagar e o vagar, declínio.

É um texto que alia a beleza das imagens poéticas à beleza da intenção.


Um beijo

Rosa Carioca disse...

Podíamos ser HUMANOS...

Daniel C.da Silva disse...

Lindíssimo, Maria João. Podíamos esperar uns pelos outros, mas não temos alma para isso...

Um beijo amigo

AC disse...

E, no entanto, a pressa leva a lado nenhum.
Navego nessas águas, Maria João.

Beijo :)

Nilson Barcelli disse...

Devíamos...
As tuas sábias palavras (disse bem, sábias palavras, sublinho) deviam ser um hino para todos nós.
Maria João, minha querida amiga, tem uma excelente semana.
Beijo.

Filoxera disse...

Acabei de passar no blogue do Carlos Albuquerque e comentar, no post acerca das pedras com olhos, o quanto estas pedras vivem apressadas.
Venho aqui e deparo-me com o mesmo cenário...
Segue mail.
Beijos, amiga, esperando que te encontres bem...

vieira calado disse...

Talvez por isso.
Por ser breve temos pressa...

Beijinho para si.

Cris Tarcia disse...

Como podiamos ser uns pelos outros. Voltar a nossa essência.

Beijos

Nilson Barcelli disse...

Reli com agrado o teu magnífico post.
Maria João, minha querida amiga, tem um bom resto de domingo e boa semana.
Beijo.

A.S. disse...

Sim querida amiga... tudo é tão breve!
Por isso vivamos cada instante como se fosse o último.


Um abraço,
AL