6 de dezembro de 2011

O inverno dos pássaros



Quando o tempo arrefece e  as horas parecem mais pequenas e mais vazias, detenho-me na alma das aves que se abrigam dentro das próprias asas. Há um desespero estranho colado ao silêncio das suas penas. Há uma solidão velada e fria no canto rasante, sem voo, nem melodia.
É Dezembro.
Em Dezembro, continuo a espantar-me com tudo o que não sei sobre o inverno dos pássaros.





20 comentários:

Dulce disse...

"..detenho-me na alma das aves que se abrigam dentro das próprias asas.."

nessas horas em que aí me abrigo,
sou no silêncio a sombra de um dia
em Dezembro..

Belíssimo João.
Um beijinho.
dulce

Bergilde disse...

Sabe Maria,
Não quero ser presuntuosa,mas hoje na minha página do facebook coloquei uma foto que tirei daqui e exprimí a mesma sensação da sua reflexão sobre a chegada do Inverno.Vejo que não foi por acaso que vim aqui te visitar!
Abraços,nesse silêncio que invade a natureza com essa estação!

Filoxera disse...

Quando Dezembro se prolonga, os dias recuam, as noites prolongam-se, o frio instala-se.
O mês tem um certo tom de fim. Fim de um ano, de um ciclo.
Soa a festividade obrigatória.
O canto dos pássaros é substituído pelos jingle bells, a solidão velada e fria de tanta gente contrasta com a amálgama consumista, os jantares de empresas, as reuniões com data marcada.
Dezembro é mês de festa, dizem.
E eu continuo a espantar-me com tudo o que consigo incutir-me a mim própria sobre esperança, solidariedade e determinação.
E deixo-me encantar pelas promessas com que me levo, a mim mesma, pela mão…

Tere Tavares disse...

Em dezembro há sempre um "cumpleaños" - nasceres de plumas sem ponto final.

Jaime Latino Ferreira disse...

MARIA JOÃO


Querida Amiga,

No Inverno dos Pássaros, o seu silêncio é um mar de gente desejoso de voar!

Beijinho


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Dezembro de 2011

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

As palavras po+eticas, brotam em torrente, à dificuldade em aprender cada detalhe, por mais insignifcante que pareça, "como o desespero estranho colado ao silencio das suas penas..." yalvez sejam as horas ou os dias que arrefecem-

Lindo, parabens amiga Maria João
Adorei

Lídia Borges disse...

"Há um desespero estranho colado ao silêncio das suas penas".

Quando encontrares um raio de sol, desfia-o com paciência. Com os finos fios dourados que obtiveres cobre a árvore de todos os dezembros onde arrefecem as aves.

Vês como cantam? Acreditam que é primavera e isso basta-lhes para serem felizes.

Um beijo de sol

Lídia

Mel de Carvalho disse...

"PÁSSAROS MATINAIS (1966)

Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direcção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto." Tomas Transtromer, (Nobel 2011)

A beleza do voo amiga, está na força determinista dos pássaros sábios que guardam a memória das rotas e o quebranto dos ventos das monções, mas jamais esquecem da importância do voar em "V". E ei-los, além de si, no ventre do verbo, no inverno primaveril de todas as fases da vida. E ei-los, aqui, nos teus textos de terra, mar, ar ... aqui todos os voos se tornam luminosos.

Um enorme e saudoso abraço, João.
O meu carinho, a minha ENORME admiração.
Mel

Virgínia do Carmo disse...

O espanto só é possível porque tu própria tens asas.

Beijinho grande, João.

Cris Tarcia disse...

Maria João, lindo!

Beijos

Andy disse...

há um inverno silencioso em cada detalhe de primavera...

muito belo!
beijo, amiga.

manuela baptista disse...

em dezembro

continuaremos sempre espantados
com tudo o que teremos ainda que saber

já os pássaros

voam


um beijo, Maria João

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

O Inverno dos pássaros...são os Dezembros da nossa alma.
Lindo como sempre e profundo o que escreves.

Deixo um beijinho com carinho
Sonhadora

antonio ganhão disse...

Todos os mistérios do mundo se escondem nas asas fechadas de um pássaro. E não se revelam no voo.

AC disse...

Maria João,
Apesar da sua aparente simplicidade, há tanto que não sabemos da vida dos pássaros...
Um texto honesto com pinceladas de grande beleza.

Beijo :)

Branca disse...

Maria João,

Em também continuo a espantar-me com tudo o que não sei e que bom que possamos aprender até morrer sibre as coisas mais simples, mas também as mais difíceis de aprender ou pelo menos as que são portadoras dos maiores mistérios da vida, tantas vezes insondáveis.

Lindo o teu texto, como a tua alma.
Beijinhos carinhosos.
Branca

Sofá Amarelo disse...

O Inverno dos pássaros será sempre um mistério porque o frio pesa nas suas asas mas eles continuam a cantar!

Rosa Carioca disse...

E como há mistérios a descobrir no nosso próprio inverno...
Lindo!

Sotnas disse...

Olá Maria João, que tudo permaneça bem contigo!

Um belo texto de deveras reflexão.
Penso que neste momento em que se abrigam nas próprias asas seja uma demonstração de respeito aos limites que todos temos, mas que ao ser humano é permitido extrapolar todos eles, independente de se colocar vidas em risco ou não, graças à sabedoria divina os pássaros não possuem nossa inteligência. É isso, penso que seja somente o momento de respeitar os limites para voar!

Gosto deveras de estar por cá, pois aqui sempre postas belíssimos escritos que leio e me encanto, além das tão belas e muito bem escolhidas imagens que por cá encimam teus escritos!
Parabéns pelos pensamentos escritos e por este belíssimo espaço onde compartilha sempre teus pensamentos com os amigos.
Agradecido por tuas visitas e comentários sempre tão gentis eu desejo a você e todos ao redor um viver tão intenso quanto feliz, abraços e até mais!

Rosario Ferreira Alves disse...

Adoro este texto poema. e tinha de vir cá dizê-lo.

um grande abraço neste Dezembro de asas em repouso.