Hoje acordei com o sol a fazer-me cócegas, no corpo ainda cansado. Aceitei-lhe a energia e num ápice, ergui-me.
Fui recebê-lo no jardim, onde o vento me presenteou também, com a frescura dos dias diferentes.
Vesti algo prático, penteei apressadamente os cabelos e saí a caminho do supermercado para as compras semanais. Coisas rotineiras, daqueles que têm apenas o fim-de-semana para assistir devidamente a casa e a família.
Na cafetaria do supermercado, antes de iniciar o percurso labiríntico dos corredores, gosto de me sentar calmamente a beber um café, que acompanho com o meu pecado semanal, um pastel de nata. É um hábito antigo que gosto de manter, como um mimo que faço a mim mesma, quase em exclusivo, ao sábado. E assim aconteceu hoje, mais uma vez.
Vesti algo prático, penteei apressadamente os cabelos e saí a caminho do supermercado para as compras semanais. Coisas rotineiras, daqueles que têm apenas o fim-de-semana para assistir devidamente a casa e a família.
Na cafetaria do supermercado, antes de iniciar o percurso labiríntico dos corredores, gosto de me sentar calmamente a beber um café, que acompanho com o meu pecado semanal, um pastel de nata. É um hábito antigo que gosto de manter, como um mimo que faço a mim mesma, quase em exclusivo, ao sábado. E assim aconteceu hoje, mais uma vez.
Fiquei ali um bom bocado, vendo chegar e partir outras pessoas que faziam o mesmo que eu. Algumas sozinhas, outras acompanhadas com suas caras metades e outras ainda, com toda a família.
Reparei, hoje com uma indignação diferente, que cada vez há mais pessoas que passam pelas revistas e jornais, escolhem uma ou ambas as coisas e levam-nas para a mesa, onde fazem a actualização das notícias do dia, da semana ou da vida, às vezes tão espelhada nas que vêm publicadas. E porque as palavras e as ilustrações não saem do papel só porque são lidas, voltam os respectivos periódicos, a ser colocados no sítio, quando os seus inoportunos leitores, já satisfeitos, se vão embora. Na prateleira, ficam novamente à espera que apareçam clientes verdadeiramente conscientes e responsaveis, que comprem a sua propriedade, antes de se dedicarem à leitura.
Neste vai e vem de chegadas e partidas, onde não há serviço de mesa possível, as empregadas não tinham mãos a medir, para corresponder aos pedidos de pequeno-almoço completo ou, menos ainda que eu, simplesmente um café. Os tabuleiros, delicada e apetitosamente servidos inicialmente, iam sendo abandonados nas mesas, com o lixo e a desarrumação das cadeiras a denunciar a saída dos seus utilizadores.
Algumas pessoas que chegavam, para puderem utilizar uma mesa limpa, pegavam nos tabuleiros, com o lixo que não era seu, colocando-os no local certo.
Pensei nas crianças que ali estavam. Pensei na educação dos mais novos e nas mensagens contraditórias (ou não) dos seus pais.
Gradualmente, fui perdendo o alento que torna os dias diferentes.
Levantei-me, arrumei a cadeira e abandonei o local deixando a mesa limpa.
Se todos fizermos a nossa parte, o mundo pode ser bem mais bonito. Ao invés disso, se nada for feito quanto antes, para repor a noção de dever e de direito, podemos ter de viver numa selva, onde nem as cócegas do sol nem a frescura do vento conseguirão transformar os cansaços.
Neste vai e vem de chegadas e partidas, onde não há serviço de mesa possível, as empregadas não tinham mãos a medir, para corresponder aos pedidos de pequeno-almoço completo ou, menos ainda que eu, simplesmente um café. Os tabuleiros, delicada e apetitosamente servidos inicialmente, iam sendo abandonados nas mesas, com o lixo e a desarrumação das cadeiras a denunciar a saída dos seus utilizadores.
Algumas pessoas que chegavam, para puderem utilizar uma mesa limpa, pegavam nos tabuleiros, com o lixo que não era seu, colocando-os no local certo.
Pensei nas crianças que ali estavam. Pensei na educação dos mais novos e nas mensagens contraditórias (ou não) dos seus pais.
Gradualmente, fui perdendo o alento que torna os dias diferentes.
Levantei-me, arrumei a cadeira e abandonei o local deixando a mesa limpa.
Se todos fizermos a nossa parte, o mundo pode ser bem mais bonito. Ao invés disso, se nada for feito quanto antes, para repor a noção de dever e de direito, podemos ter de viver numa selva, onde nem as cócegas do sol nem a frescura do vento conseguirão transformar os cansaços.
13 comentários:
Olá, Maria João
Gostei de ver como, duma forma mais ou menos "adoçada", (com um pastel de nata...) chamas a atenção para a enorme falta de educação cívica que grassa entre nós.
Tenho a impressão que as pessoas pensam que não têm obrigação de limpar o que sujam, que para isso estão lá as empregadas. Nesses lugares o procedimento correcto é arrumar o tabuleiro e deixar a mesa limpa quando se abandona. Quem o não quer fazer terá que ir a um restaurante, e aí, sim, pode levantar-se (depois de pagar...) que lá estão os empregados para repôr as mesas.
No fundo, o que acontece é que há muita falta de educação, cívica e não só...
Achei óptimo o teu texto. Tudo o que sirva para educar o povo é sempre útil.
Beijinhos
Amiga,
que texto delicioso de ler e a música.... maravilhosa! Viagei no tempo e me vi saboreando esse café. Claro com o pastel de nata!Mas, o mais legal foi sentir a sua sensibilidade. Tens razão a beleza do mundo está nas nossas mãos... fazer a diferença é para todos nós, não nos custa nada.O que será mais que está faltando para o mundo refletir em todas as misérias que vem nos assombrando?!
adorei o texto,
beijinhos
Gisele
Há coisas que ainda me fazem confusão. Desde pequenina, sempre vi meus pais terem a mesma atitude: deixarem a mesa limpa (fosse um pequeno-almoço ou um simples cafezinho). Quando saí, pela primeira vez, com quem viria a ser o meu marido, tomei a mesma atitude: levei as chávenas do café até ao balcão. Ele, admirado, perguntou-me porque tinha feito aquilo. Simplesmente respondi: "Não me custa nada."
Confesso que sinto um enorme prazer, ao ver meu marido tomar a mesma atitude. Certa vez, um empregado, agradecendo, disse:"Não se incomode". E meu marido respondeu: "Não custa nada."
Olhei para ele e sorri.
Afinal... não custa nada ser civilizado.
Maria João, que texto gostoso de ler, senti o calorzinho do sol também, parabens pelo lindo post
Beijos
Esta é uma realidade que também me faz confusão...
Beijinho
Maria João...
Afinal vamos descobrindo gostos comuns :)
O meu pequeno almoço é exactamente um café e um pastel de nata!!!
Um beijo!
AL
Há uns anos vi uma senhora com ar de nórdica muito apressada a apanhar papéis que um português típico ia deitando para o chão nas ruas de Lisboa. Na altura fiquei surpreendido pela 'coragem' da senhora: vir a um país estrangeiro e dar-se àquele trabalho, ainda se fosse o seu país... mas depois percebi - olhando melhor para a senhora - que o seu gesto foi perfeitamente natural, não teve nada de premeditado: é que ela vinha de um país onde os mais novos se levantam de imediato nos transportes públicos para dar lugar aos mais velhos e onde não deve ser comum encontrar papéis e beatas no chão...
Excelente a tua chamada de atenção, ainda para mais ilustrada com todo um ritual que os portugueses ainda vão fazendo... até quando não se sabe...
Há sempre um energúmeno à espreita em cada café onde nos sentamos...
A culpa dessa "bandalheira" só pode ser dos proprietários.
Não custa nada disciplinar os clientes e impor-lhes hábitos de ajuda e higiene.
Esta opinião que tenho, baseia-se na experiência:
Frequento duas pastelarias, a cerca de 100 metros uma da outra, que são frequentados por muitos clientes comuns.
Numa delas, o quadro é idêntico ao que descreves.
Na outra, não há o mais leve indício de desorganização ou de falta de higiene.
A única diferença, que justifica a diferença de comportamento dos clientes, são os proprietários. Um tem "escola", mas o outro não...
Querida Maria João, muda de pastelaria... e informa o dono dos motivos... ou então muda sem dizer nada...
Bom resto de semana.
Beijo.
Façamos votos para que as coisas se componham!
Mas não podemos estar à espera de milagres ou que os poderosos o façam.
Beijinho
Pois é, Maria João!
O mundo podia ser bem mais bonito...
O seu post disse-me muito. Mais uma vez encontrei o seu olhar sensível sobre o que a rodeia.
Quantas vezes assisti às cenas dos jornais e revistas... Numa ou noutra ocasião chamei os "abusadores" à pedra. Sabe, olharam para mim como se estivessem a ver um extra-terrestre! Mas não desisto, continuarei a fazê.lo.
Diz o José Quintela Soares que há sempre um energúmeno à espreita...se fosse só um!
Uma ternura o comentário da nossa amiga comum Rosa Carioca!
Um grande abraço. Bom fim-de-semana.
--
PS.
O pastel de nata também é um "pecado" meu, não semanal, mas quase diário, pelo menos enquanto não aparecer o "pneu" :))
Com a bica depois do almoço, lá vem o pastelito, mais a menina canela. Então, com a colher de adoçar o café (que não adoço), vou comendo o creme, deixando a massa folhada de lado. Já sei, já sei que me vai chamar guloso. Mas é que sou mesmo!:))
Já vi outros a fazerem o mesmo. A moda pegou!
Bom apontamento de alerta
Resistir é urgente
Bj
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. entre.mimos de um sábado que se merece .
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. o mundo contemporâneo que ao querer morrer acontece .
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. um beijo, maria joão .
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. um bom resto de domingo que agora entardece .
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. paulo .
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