Mirjam Delrue
Pouso os olhos no teu
nome*, pai
É tudo o que tenho; o
teu nome
Essa conjugação
imperfeita da tua vida na minha
Como um eco mudo e cego
que me rasga
Um fundo mais fundo
onde não existe o teu rosto
Nem as tuas mãos a
sulcar o meu caminho
Nem o teu afago na
minha memória.
É tudo o que tenho de
teu, pai
O teu nome e nada mais.
Nenhum fio de lembrança,
nenhum nó, nenhum laço
Nenhum prumo, nenhum
rumo
Nada que esteja
ancorado à tua voz
E que eu tenha amado ou
esquecido para me salvar.
Por isso o meu peito é um
espaço exíguo
De estilhaços gastos
E talvez o teu único
pecado seja
Não teres pousado os
olhos no meu nome, pai
E não saberes que eu
sou
Sangue teu a gotejar
Sobre esta dor azeda de
viver
Sentindo a tua falta.
* in: "Sou, e Sinto" de Virgínia do Carmo - p.49
9 comentários:
Que lindo Maria! Tanta tristeza, ternura e solidão mescladas com beleza. .. Um abraço.
Há coisas que eu penso
E há um poeta que escreve
Assim mesmo, como eu pensei
É para isso que servem os poetas
Escreverem sobre o que nos vai na alma
no pensamento, na memória
Bem hajam
Uma ternura
sem mais palavras
Bjs
"Nada que esteja ancorado à tua voz"
Tão pouco do tanto que deveria ser ser.
Um beijo
tão intensa a tua voz a transbordar...
há saudades que vivem no silêncio mais profundo daquilo que somos.
belíssimo, amiga!
beijo carinhoso
Este poema rasgou-me por dentro. Lindo!
Tocante, uma falta
Palavras ditas do coração
Um despejar de alma,
Uma dor…com nome.
Apesar de palavras doloridas
Belo, teu poema.
Beijo :)
às vezes a saudade aperta e solta-se em versos loucamente lindos, embora doridos, como estes.
Um poema que nos toca profundamente.
Beijos
Profundamente belo o nascimento das palavras que substanciam com perfeição o que nunca será perfeito.
Gostei tanto...
Um imenso beijo
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