Ando ombro a ombro contigo a dedilhar palavras
E tu olhas-me triste
Porque sou o eco infértil da tua boca
E dela nada ouves senão silêncio
Neste medo meu de envelhecer versos
De os fazer viver à míngua
No espaço perdido dos dedos.
Sabes, talvez nunca os saiba dizer
Talvez te arrependas de caminhar comigo
E dês por perdida esta tua semente
Não, eu não sou poeta!
Falta-me o desassossego
Do ser mais alto e maior dos poetas
A coragem com que rasgam o grito
E tomam a força das aves
A direcção dos caules
O mistério das folhas
A revolta dos mares
O ciclo inesgotável do sol
O pulsar constante da vida.
Falta-me a vida…
Por isso ando de mão dada contigo
Bebendo de ti a polpa dos verbos
Só tu podes fazer-me renascer
Nua de pele, vestida de encanto
E dar à minha voz vazia e calada
O canto que dás aos Homens
E a alma que acendes no povo
Que não sabe viver sem ti.
Só tu podes semear em mim o olhar de poeta
E ensinar-me
Como desbravar na palavra o caminho dos olhos
Como dar ao que choro
A liberdade certa no leito de um rio.
Só tu sabes dizer-me que viver vale a pena
E assim, lado a lado
Talvez faças do espaço amplo do meu peito
Um oceano
Onde podem ancorar todos os barcos
Ou a página rubra
Onde mesmo sem nunca o saber dizer
Um dia eu consiga escrever
O teu poema.
16 comentários:
Não vale a pena
dizer-te que escreveste
um belo poema
Tu sabes
Tu sentes
Que o fizeste
Quando quiseres
Podes escrever o seu poema
E é isso: viver vale a pena
Olá Maria João,
As grandes idéias surgem da observação dos pequenos detalhes.
Este poema é um deles....como um oceano onde podem ancorar todos os barcos, diria mesmo, todos os sonhos!
Beijinho
Não! Um poeta não pode ser mais do que isto: rasgar o verbo até ao nervo e engolir a dor... escrevendo barcos em mar de desassossegos.
Beijo
de todas as lágrimas se purifica a alma, minha amiga,
e a poesia se consolida e (nos) ampara...
em "quase reis" deixo-te um abraço maior
a minha amizade de sempre
... obrigada!
beijo
Mel
A poesia é assim
asfixiar um pássaro
pelas mãos de uma criança
e desenhar no chão
a dor que sentimos
Bjs
Desassossego Ó quanto.
Poeta sim de alma cheia, prenhe de ansiedade que faz acordar em sobressalto os espíritos, a "Liberdade certa no leito de um rio"
Belíssimo como sempre, um Feliz 2013 cheio de inspiração
Maria João,
Este é o teu poema inteiro e amplo, inteiro e vivo e ai de quem não te sinta assim, é porque não sabe nada de poesia. A poesia é assim, como diz o nosso amigo do "Mar Arável", é assim e é humilde. A poesia é um canto que te rasga por dentro e te dá inteira e generosa, como um pássaro que pousa na nossa mão.
E eu voei contigo.
Um beijo, sempre.
Branca
querida amiga, a tua voz escrita/sentida tem tanto encanto!
nunca me canso de te ler, sempre com o mesmo deslumbramento.
beijo imenso!
O olhar de poeta já existe nas suas palavras.
Minha querida Maria João
Os teus poemas têm vida própria cruzam-se dentro da pele...são um rio a transbordar na espuma dos dedos...um mergulho silencioso que paraliza o sangue...esculpindo as palavras que ficam nas mãos...esperando pelo tempo.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Sempre que nos damos... somos!
Beijinho. Gostei muito, como sempre.
Soberbo.
Qualquer Poeta gostaria de ter escrito o teu poema.
Para ler e reler.
Maria João, querida amiga, tem uma boa semana.
Beijinho.
São feitos de dor ou de alegria, de olhos e de saudade, de palavras ou de silêncios. Os poemas.
Este é lindo, como todos os teus que tenho lido.
Um abraço amigo.
ele está escrito... poeta...!!
Obrigado por partilhares.
bj...nho
Caramba, Maria João, este poema deixou-me arrepiado, emoções à flor da pele...
Há nele algo de grandioso e honesto, há nele algo que toca de imediato. Como os grandes poemas.
Beijo :)
E dessas sementes nasceram os mais esplêndidos versos. Parabéns, Maria João.
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