São duas as tardes que moram em mim;
Uma é sombria
feita de pingos de chuva e da cor cinzenta do céu
refugia-se num canto da alma
a revolver o vento e a chorar melancolia
procura o certo, no que há de mais incerto
e respira o silêncio de uma calma
que se ama e se estranha.
Chega sem aviso
quando não oiço
o rumor dos gestos
dos passos que me dizem quem sou
porque fui, porque chego
ou porque vou.
A outra
é alegre e luminosa
profusa de flores e de voos
e deixa os meus lábios pintados
de sorrisos e poemas.
Vem quando não sei, quando não espero
e acontece como uma brisa breve
um aroma que faz crescer o coração
até à beira da boca
pula de esperança e é tão leve
que dá ao toque das minhas mãos
a certeza das coisas mais certas.
As duas vivem em mim
delas parto para noites e manhãs
nelas soletro o meu nome
e detenho-me no verso
que preenche o anverso de cada letra.
10 comentários:
Essa dualidade representa a vida, Maria João.
Por vezes andamos a revolver o vento e a chover melancolia, por vezes andamos alegres e luminosos de sorrisos e poemas.
Beijinho
Descreves, duma forma fabulosa, os estados de alma que compõem a minha vida - muito mais frequente o primeiro do que o segundo, presentemente.
Excepcionalmente belo este teu poema.
PS - Quanto às bestas... de nós é que eles fazem "bestas de carga".
Pode ser que, quando a carga se tornar insustentável, as bestas unidas dêm um coice que os mande para os quintos do inferno! (onde deviam estar há muito tempo).
Beijinhos, querida amiga
Minha Alma e Meu Contrário
Retratados nas tardes de um Poeta
Com a palavra bela e certa
Soletremos o nosso nome
apenas um sorriso ENORME!!!!
beijo de gratidão pela (tão) bela partilha
Mel
Lembrei-me de Hermann Hess – "O lobo da estepe" e a natureza dual do ser humano
Antagonismo?
Um beijo
Minha querida
Há sempre o verso e reverso de nós...a alegria e a melancolia faz parte da alma do poeta.
Sempre imensos os teus poemas.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Para que haja crescimento interior são necessárias essas metades,uma que completa a outra.Nem demais,nem de menos.
Bom dia!
Duas tardes, mas um só coração...
Excelente poema, como sempre.
Beijo, querida amiga.
somos uma misteriosa composição de sombras e cores...
és linda, Maria João :-)
beijinho!
E é no conjugar das duas (e de outras mais?) que as palavras assomam assim, belas de se tomar, belas de sentir...
De resto, para além de nós, a vida continua a conjugar-se de múltiplas formas.
Maria João, as palavras tendem a respirar em si com a maior das naturalidades.
Beijo :)
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