Ainda que ergam a cabeça, estão isentos de ideias, de contrições e de amor.
É uma formula: um homem dedica o seu dia à escuridão do gesto, submete o corpo aos instintos mais pesados, toma banho de pijama, não olha pela janela nem atravessa pontes.
E o resultado: um dia de chumbo em excesso para o somatório de cicatrizes,
um nível abaixo do penteado.
A liberdade é, nestes casos, o maior desperdício de um homem-livro, uma tirania difícil de inalar.
Dão-lhe poesia e ele escreve tempestades.»
MENDES, Sílvio (2011: p. 46), Inéditos in: Golpe d'Asa
fotografia de Carlos Gotey
7 comentários:
Por vezes sirvo-me destas palavras pesadas
quando escrevo tempestades
(mesmo depois de ter ler,
quando és tu a escrever)
"Dão-lhe poesia e ele escreve tempestades"
Nada mais natural, sob nuvens pesadas, brotarem tempestades "um nível abaixo do penteado".
Para pensar!
Beijinho
É sempre com redobrado prazer que leio as tuas palavras!...
Abraços,
AL
Às vezes nem é o pensar que faz falta, mas o sentir...
Beijos, amiga.
Digo o mesmo que a Filoxera.
Quando as nuvens são pesadas, há momentos em que o sentir é desesperadamente sobrecarregado...mas é preciso olhar pela janela, atravessar pontes, encontrar a poesia...
É preciso...
Mas, até para encontrar a poesia há que ter o mínimo de qualidade de vida, que não significa dinheiro, mas outras condições humanas...
Será que aqueles que trabalham de sol a sol e que as cada vez mais complicadas condições de trabalho permitem a todas as pesoas sentir minimamente a vida? Vejo-as massacradas, subjugadas, arrastadas até um fim de dia em que o corpo só lhes pede paz...
Obrigada pela partilha de tão interessante texto. Para reflectir.
Beijinhos Maria João.
Branca
belo, minha amiga.
um beijo e uma Santa Páscoa - estou quase de partida :)
Mel
Maria João, muitas pessoas andam assim, não colocam amor nos seus gestos, não atravessam pontes, não arriscam, não sonham, triste vejo muitos assim , uma vida sem sentido.
Beijos querida
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