- Olá – disse ela.
- Olá – disse ele.
- Quem és tu, tão belo e que fazes aí no cimo do teu vértice?
- Ando no vento à minha procura.
- Posso gostar de ti, se me deixares . Porque não te vens mirar aqui, na minha janela?
- Porque a janela é tua e eu não sei ainda quem sou. Dizes que sou belo, mas eu não me reconheço nesse reflexo. Para gostares de mim, é preciso que eu antes me revele e como me posso revelar se ainda não me descobri? Passarias a gostar de mim pelo que julgas que sou, através da luz dos teus olhos, mas o reflexo é apenas a projecção de um desejo, não a minha realidade.
- E como podes tu encontrar-te no vento? Ele passa tão rápido. Às vezes corre veloz e é frio, outras é apenas uma suave brisa que vem do mar. Como buscas a verdade de ti nessa inconstância?
- Espero com paciência que é a maior de todas as sabedorias e grande companheira do tempo.
- Mas a sabedoria nem sempre traz o que se espera e o tempo é efémero.
- Por isso eu não espero nada em concreto. Se soubesse o que ela me traria, que adiantaria esperar? Sabes, não tenho pressa. É tão bom voar.
- Mas posso gostar de ti à mesma , enquanto te descobres?
- Podes sim, mas eu ficarei teu amigo e depois, que faço eu com os teus olhos, se chorares?
- Porque haveria eu de chorar? Gostar de ti vai-me fazer sentir mas bonita.
- Mas eu não sei ainda quem sou, lembras-te? Posso desiludir-te.
- É verdade isso que dizes…. . Mas sabes, quando estou aqui à janela, às vezes aqueço-me com o sol que brilha alto e outras também me abrigo dos pingos da chuva. Sei que é assim e não tenho medo, nem me desiludo. Se te vir chegar, vou abraçar-te com cuidado e ouvir o que tens para me contar. Se te vir partir, ficarei feliz por ti e prepararei os meus olhos para te ver de novo no regresso.
- E se eu não voltar?
- Oh… se não voltares, talvez aí eu me molhe com a chuva mas, abrigar-me-ei na lembrança deste nosso abraço e o seu calor, secará as minhas penas.
Foto pessoal
15 comentários:
Maria João, estou encantada com este diálogo tão próximo de mim.
Vale sempre a pena arriscar. A eternidade pode caber dentro de um instante, por isso vale a pena "gostar" ainda que correndo o risco de acabarmos abrigados na lembrança de um abraço distante.
Beijo meu
Que delicadeza, quanto sentimento!!! Fiquei emocionada...
Um beijo grande,
Lu
Maria João,
Que coisa doce e profunda, em simultâneo!
Vê-se que tem um coração enorme e uma grande crença no melhor das pessoas.
"Banqueteei-me" com o texto. Obrigado.
Beijo :)
Minha querida
Uma história terna e profunda, adorei.
Beijinhos com carinho
Sonhadora
Profunda y muy sentida tu historia.
Gracias por compartirla.
Un bello momento se pasa en tu espacio..
Un abrazo
Saludos fraternos.
Conheço-te bem. E só tu para escreveres um texto tão profundo.
Tinha que o comentar...
Beijinhos, mha Amiga (toda coração!)
Vanda Alves
Maria João
num agitar de ave
doce e suave
atingiu o vértice
o grau supremo
de um turbilhão molhado
capaz de secar as penas
e gostei muito!
um beijo
Manuela
Maria João
Um diálogo lindíssimo do amor possível porque jamais se materializa. Porque pode ser sonhado e inventado. Ir no vento e na ilusão de ser ou de ter sido. Mas nunca experimentando o tormento terreno. Este espaço assaz pequeno para o amor... A menos que a alma seja grande e transponha os limites. A que preço? A que dor? A que grito?
Ainda que haja Primaveras, ainda que haja sorrisos, estas perguntas doem dentro com os momentos vividos.
Abraço saudoso Maria João. Sempre aqui voltarei. Perder a tua amizade era ficar mais pobre.
Um belo diálogo, Maria João.
Li-o dum fôlego e com muita emoção.
Fica-se suspenso, pendente do juízo do tempo, do vento... com a ilusão do etéreo da Eternidade!
Parece que sentimos toda a saudade do Mundo, do que não sabemos o que somos, o que vai ser do nosso tempo, a certeza da incerteza das nossas vidas, a bailar volúvel...quase que a volatilizar-se no espaço sideral!
Um abraço
António
Excelente...muito bonito e carregado!! Parabéns!!
[]s
Amiga,
simplesmente lindo... como és tão doce. Seus textos me fazem levitar.
obrigada. É sempre um prazer chegar até aqui e ler essas suas preciosidades,
beijinhos no coração,
Gisele
Maria João, que texto delicado, encantador. Como tb esta o seu cantinho , adorei a sua foto.
Beijos
Que poderá haver melhor que andar no vento à procura de pedacinhos de nós próprios! O vento leva e traz as memórias de um tempo que muitas vezes construímos na imagem dos nossos dedos e das nossas lágrimas... É o vento que desdobra a felicidade nos abrigos que as nossas almas precisam...
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. do diálogo nasce a luz .
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. que nos conduz à introspecção do que a.final somos .
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. e saio . na certa certeza de que re.voltarei sempre .
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. um beijo, maria joão .
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. paulo .
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Um diálogo enternecedor!
Beijinho para si, amiga!
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