30 de dezembro de 2014




Daqui ali é um segundo.
E um segundo pode bem ser o único espaço que temos 
para pintar no universo as nossas estrelas.





21 de dezembro de 2014

Natal




A história que venho contar   
é uma história de Dezembro  e em tudo especial
fala de meninos e pais e de muitos…muitos Natais
fala de Jesus e de como chegava em pequenos bicos de pés
fala de sonhos e de chaminés
e de um tempo pobre mas rico em magia
Pai Natal... não,  ninguém conhecia.
cartas, sim, essas havia
onde pouco se pedia como manda a tradição
um presente, pouco mais
para além de amor, paz e pão.
Naquela noite silente em que o sono fugia
sabiam os mais pequenos que o Menino viria
e se algum receio existisse
de que ele se pudesse esquecer
[ afinal era pequeno, acabado de nascer]
a criançada rezava em frente à árvore enfeitada
agarrada à grande esperança
que os  sapatos lustrados
que brilhavam  junto ao fogão
tivessem pela manhã uma pequena lembrança
a prova mais desejada:
que Jesus no céu os guardava bem juntinho ao coração.





4 de novembro de 2014




Antes de ser pó, serei água.
O meu caminho é de regresso ao Oceano
ao ventre da voz maior e mais salgada
onde é líquido o segredo de pertença
e o silêncio, um berço
entrançado em espuma branca.




17 de setembro de 2014

Nuances de verde e vento



Ousar enfim quebrar os remos
e deixar fluir sobre as águas
o alinhamento dos equinócios.
Os olhos lavados de desígnios
já construíram nas margens
o abrigo das poeiras;
não há medo no vento
e tudo é bem mais verde
na respiração granítica da paisagem.





15 de junho de 2014

" Horas de Água"


Um dos imperativos da vida é desejar que a memória não se perca.



30 de abril de 2014

Versos do lago



Naquele lugar
haverá sempre versos
que demoram
entre uma chávena de chá
e o colo das tardes
entrançadas em palavras.
Escrevem-se no aroma das frésias,
no interior de um fruto amadurecido
lentamente,
e guardam-se no segredo do lago
como se fossem paisagem inacabada
de um poema completo
que nunca sabe como dizer-se.




13 de abril de 2014

Homens e bichos




Distingue o canto e a ave
porque uma fábula é um conto inventado: 
só isso!
A tua história é a dos Homens
daqueles que querem ser Homens.
Não a dos bichos!
Não a dos bichos...



12 de abril de 2014

Rosas de abril




O tempo aquece mudo
num tempo de florir rosas.

Lindas, leves
tão graciosas essas rosas.

São como pálpebras coloridas
a acordar no cimo de viçosos caules
que bailando na tímida brisa primaveril
fazem do sonho a gavinha
um milagre novo a florir em abril
como pão de bem querer
no regaço de uma rainha.



27 de fevereiro de 2014

O azul é céu todos os dias




Os dias não são sempre iguais. Dizes-me, embora não o sintas.
Dizes-me para saberes como se segura a tristeza com o cansaço, para a arrancares dos lábios antes que as palavras se azedem na tua boca sem céu. Dizes-me (eu sei) pensado que também eu preciso de acreditar nisso.
À tua volta, a terra é um fundo negro , cada vez mais negro, e a claridade de cada dia é coisa pequena. Tão pequena que mal a sentes; tens os olhos presos a uma escuridão sem candeia. Talvez por isso a tua pele tenha a cor pardacenta de uma folha de papel esquecida, amarrotada e inútil, sem nada que pareça ter valido a pena. Tudo nela escrito; porém, sem que entendas o significado das linhas, dos sulcos, dos poros, da transpiração inevitável da tua vida. Sem que percebas que te deixaste levar para a quase morte dentro desse vazio de terra negra, onde o verde dos prados se transformou em cinza, numa secura própria dos desertos da alma.
Dizes-me que não são iguais: os dias, e vejo-te moribundo à procura de uma árvore grande. Uma árvore com raízes e ramos e folhas, e os frutos abrigados nelas, à espera de amadurecer, sabedores da doçura do tempo.
Aperta nas mãos isso que dizes. Espreme cada palavra até lhe saberes o sentido, e o eco for inteiro na tua língua.
Ainda há árvores a crescer, sabias?! Não, não aí, nessa terra onde abandonaste o corpo para envelhecer, nessa ravina de má memória onde te lembras, não!
Mesmo à beira do abismo, neste lugar de pedra descarnada que nos fere e nos desnuda a todos, o sol ainda nos abraça; ainda beija o chão e aquece; ainda alegra o canto das aves; ainda faz brilhar no olhar a cor imutável do céu. É aqui, antes da queda,  que as árvores crescem, sem desespero, com as raízes presas às rochas. Às vezes, crescem curvadas pelo peso do vento, à noite. Mas crescem, dignas, enquanto tiverem seiva. Enquanto lhes rangerem os galhos, sabem do tronco que se eleva à procura do azul:  esse azul que persiste, no cimo de qualquer paisagem pintada em qualquer tela . O azul que é céu todos os dias, embora alguns sejam diferentes só porque têm nuvens.





22 de janeiro de 2014

Coisas certas














Nada é deixado ao acaso.
Uma casa é um casulo
com as paredes a ressoar.
Tudo em espera
pelos olhos capazes de ver;
tudo em espera
a ciciar memória.
Nada é deixado ao acaso.
As coisas simples ficam, simplesmente
suspensas
até se saberem certas;
até  se saberem no tempo de serem
por credo e vontade
imagos, prontas a acontecer.